Nesta série de artigos que estou escrevendo acerca de temas demográficos, em nossos encontros anteriores tratamos o caráter universal da maior longevidade, a mudança do perfil demográfico brasileiro, a importância da revisão populacional do IBGE de 2008, as novidades do Censo 2010, o fato de nascerem mais meninos do que meninas, o envelhecimento por “ondas” e a relação entre o crescimento da população e o PIB. O tema de hoje é a perspectiva de encolhimento da População Economicamente Ativa (PEA).
A tabela apresenta a perspectiva de evolução da população em idade intermediária no Brasil entre 2013 e 2050, conforme projeção do IBGE. Por “população em idade intermediária” entende-se a que está longe dos extremos, isto é, que não é nem criança/adolescente, nem idosa. A princípio, representa a população em idade de trabalhar. O que é “idade de trabalhar”, porém, é algo elástico, pois é possível ter um jovem de 20 anos sem trabalhar e ainda estudando, assim como é possível ter uma pessoa de 70 anos e ainda trabalhando. Por conta dessa dificuldade, trabalhamos aqui com três universos, tomando como referência inicial o grupo mais abrangente, entre 15 e 64 anos. Desse grupo retiramos então os subgrupos extremos: num caso, o de pessoas de 60 a 64 anos, o que nos deixa com o subgrupo de 15 a 59 anos; e no outro, o de jovens de 15 a 19 anos, o que nos deixa com o subgrupo de 20 a 64 anos. Em números arredondados, a estimativa do IBGE é que o Brasil em 2013 tenha 119 milhões de indivíduos de 20 a 64 anos; 129 milhões de 15 a 59 anos; e 136 milhões de 15 a 64 anos.
O tamanho da população de cada grupo varia um pouco, mas a evolução das taxas de crescimento populacional de cada um deles conta mais ou menos a mesma história, com três denominadores em comum: 1) a taxa de crescimento populacional dos adultos é positiva inicialmente e negativa depois; 2) já a partir da década de 30, a taxa de variação se torna negativa; e 3) na comparação entre 2013 e 2050, a taxa de crescimento média de cada grupo é próxima de zero, ainda que em alguns casos seja ligeiramente negativa e em outros ligeiramente positiva.
É possível argumentar que o grupo que melhor capta a capacidade de contribuição das pessoas para a geração de riqueza é a terceira coluna, que inclui os indivíduos de 20 a 64 anos. É razoável, pois pode-se admitir que os jovens irão cada vez mais se concentrar no estudo e adiar o ingresso no mercado; e que haverá uma tendência a “esticar” a permanência na ativa. Mesmo nesse caso, em que o crescimento do grupo é maior, observa-se que o contingente nessa faixa etária aumenta 1,2 % a.a. entre 2013 e 2020, mas a taxas declinantes, que já se tornam negativas entre 2030 e 2040. Para entender a importância dessa dinâmica, basta citar que entre 2030 e 2050, este grupo de indivíduos de 20 a 64 anos de idade “encolherá”, de 137 milhões para 127 milhões de pessoas.
Da leitura desses números, chega-se a três conclusões da maior gravidade. A primeira conclusão é que, quando se combinam essas informações com a evolução da população idosa, o país tem pela frente um desafio maiúsculo: enquanto que entre 2020 e 2050 a população entre 20 e 64 anos irá diminuir em 2 %, o grupo de pessoas com 65 anos de idade ou mais irá aumentar em nada menos que 156 %, o que significa que a razão de dependência (coeficiente entre número de idosos e população em idade de trabalhar) irá dar um salto.
A segunda é que o crescimento futuro da economia irá depender essencialmente da produtividade. Tomando como base 2013 e comparando com a expectativa que se tem para 2050, em termos acumulados a população de 15 a 59 anos irá cair 5 %, entre 15 e 64 anos irá crescer apenas 2 % e o grupo de 20 a 64 anos irá se expandir um pouco mais, mas menos de 7 %. Anualizadas, todas as taxas dão números próximos de zero, como já salientado. No futuro, portanto, “crescimento do PIB” terá um nome: produtividade.
A terceira conclusão é que para sermos mais produtivos, teremos que educar mais nossa juventude e – eis um enorme desafio – teremos que tornar mais produtivo quem já saiu da escola e ainda tem pela frente 20 ou 30 anos na ativa. Caso contrário, vamos perder o bonde da história. Temos um duro caminho pela frente. Quem viver, verá.
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2013
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