A presidente Dilma Rousseff pode dar, hoje, um passo fundamental para a salvação de um projeto que, a permanecer na rota dos últimos anos, perderá completamente a razão de existir. Ao desembarcar em Buenos Aires, em sua primeira viagem ao exterior como chefe de Estado, ela deve discutir o Mercosul com a presidente Cristina Kirchner.
O bloco, que tinha tudo para fortalecer os países que o integram junto ao cenário internacional, derrapou feio e o grande responsável por seu enfraquecimento tem sido a Argentina.
Imerso numa crise crônica que ressurge com força sempre que parece caminhar para uma solução, o vizinho tem sido mestre em descumprir acordos e em adotar medidas que ignoram os demais países do bloco.
Isso sem falar na eterna mania de jogar sobre os ombros alheios a culpa pelos equívocos que comete. No início de 1999, quando o Brasil se viu forçado a romper o dique que mantinha o real artificialmente valorizado, o então ministro da Fazenda da Argentina, Domingo Cavallo, rugiu.
Segundo ele, que havia inventado a quimera cambial que mantinha a paridade entre o peso e o dólar, o Brasil tinha a obrigação de manter o real encostado na moeda americana – única e exclusivamente porque isso era bom para a Argentina.
Todos os presidentes brasileiros que antecederam Dilma desde que a ideia do bloco foi lançada fizeram concessões movidos pela noção de que, em nome da manutenção do bloco, o Brasil tinha que aceitar o estilo errático dos gestores argentinos.
Com ela na Presidência o Brasil tem, pela primeira vez desde a criação do Mercosul, a possibilidade de tratar o tema tecnicamente. E de dizer um basta à série de transgressões cometidas pela Argentina ao puxar as alíquotas de importação dos produtos que lhe interessam e ao tratar o Brasil não como parceiro, mas como um arrimo de família que tem a obrigação de sustentar um irmão desequilibrado.
É claro que o Mercosul é importante e sua manutenção deve ser perseguida. Sempre. Mas, pelo comportamento histórico da Argentina, talvez seja a hora de o Brasil começar a falar alto e mostrar aos sócios do bloco que, se virar as costas, o Mercosul desmorona – e os prejuízos serão maiores para os outros do que para ele.
A era das concessões acabou. A hora é de parcerias.
Fonte: Brasil Econômico, 31/01/2011
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