Quando fui convidado para escrever algo sobre o “Dia Internacional da Juventude”, a primeira coisa que me veio à mente foi: o que é, realmente, a juventude?
É algo preso à cronologia de nossas vidas? É, como se diz por aí, algo que está “na nossa cabeça”? É um estado de espírito, um ideal? Juventude é isso tudo, claro, mas ao soar em nossos ouvidos, esta palavra necessariamente representa o novo, o inédito, o frescor, a claridade. E por isso mesmo é perturbador ver como o jovem de hoje, tão exaltado por sua conexão com o mundo através da internet e pelas novidades tecnológicas prontamente adotadas, pode ser também tão velho, no pior sentido que essa palavra pode assumir.
Recentemente me envolvi em uma aventura tão reveladora que merece se tornar um questionamento. Depois de muito tempo resolvi voltar aos estudos e passei a cursar Ciência Política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Comecei, então, a prestar mais atenção no que ocorre dentro dos muros das universidades e acompanhei a eleição de uma chapa para o comando do DCE da Universidade de Brasília que, espantosamente, não era ligada a nenhum sindicato ou partido de esquerda.
A ideia me inspirou e resolvi reunir alguns colegas de curso e fazer algo semelhante na Unirio. Chamamos nossa chapa de “Livre” e elencamos alguns ideais num site feito de última hora como meritocracia, liberdade individual, economia de mercado, responsabilidade, transparência e um aviso, escrito no meio do manifesto: o reconhecimento do capitalismo como um sistema a ser melhorado, mas não superado.
E dentre todas as declarações que fizemos, a que mais causou confusão foi a seguinte: “rejeitamos o marxismo farofeiro”. Até alguns membros da chapa se incomodaram com isso, como se estivéssemos profanando algo que não deve sequer ser tocado. Felizmente a frase ficou.
Prontamente nosso movimento foi taxado como “de direita”, “conservador” e “reacionário” pela grande maioria da comunidade universitária, o que me leva novamente ao questionamento: o que é ser jovem?
Porque não existe nada tão velho e bolorento quanto luta de classes, ditadura do proletariado, socialismo, comunismo, economia planificada, sindicatos tomados por partidos e outras bobagens que, ainda hoje, são repetidas como se fossem alguma grande novidade. E por mais que fora das universidades as pessoas que vivem no mundo real saibam que tudo isso ficou, pelo menos economicamente, relegado ao século passado, na academia este debate permanece mais vivo do que nunca e, pior, com a velharia desfilando triunfante sobre os ombros jovens dos estudantes que repetem a esmo conceitos já superados pela realidade dos fatos.
O comunismo pode ter perdido a guerra fria e econômica, mas parece ter vencido a guerra ideológica pelos corações e mentes desses jovens curiosamente tão velhos.
E a coisa piora quando observamos o que acontece em vários países da América Latina, como Venezuela, Argentina, Bolívia e Equador, onde toda a cartilha do perfeito idiota latino americano como estatizações, assistencialismo e a briga (ao invés da parceria) com as empresas transnacionais é aplicada como se ainda estivéssemos no meio do século passado.
Perde-se a razão e junto com ela excelentes oportunidades para geração de empregos e movimentação da economia.
Se é impressionante esta tendência atávica do nosso continente para o subdesenvolvimento intelectual e econômico, é mais impressionante ainda que tais velharias sejam entusiasticamente abraçadas por nossos jovens. E são justamente estas aberrações que permitem que a cada quatro anos o eleitorado brasileiro seja refém de um debate tão arcaico quanto é o terrorismo eleitoral em torno das privatizações, que, a rigor, tiraram várias áreas do país – como as telecomunicações – do atraso.
Tudo isso me leva a pensar que ainda que a culpa por esta embriaguez ideológica de nossa juventude (que sai por aí com camisetas de Che Guevara, exemplares de “O Capital” debaixo do braço e berrando palavras de ordem que seus pais e avós já repetiam) seja dos professores e de quem os forma, esta culpa não deixa de ser compartilhada por quem se opõe a tudo isso, já que a mensagem de modernidade, da flexibilização da economia e, principalmente, dos benefícios da livre iniciativa não consegue chegar até eles.
Não existe nada mais jovem e moderno do que uma economia diversificada, o menos regulamentada possível, onde empresas possam ser abertas em pouco tempo e, em menos tempo ainda, já estarem dando lucro e dividendos aos seus associados. Nada é mais moderno do que a alternância de poder (tão demonizada, ainda que tacitamente, por estes partidos esquerdistas que ascenderam ao poder na América Latina desde o início do século).
Nada pode ser mais jovem do que um governo transparente, sem “comissários”, sem caixas pretas. Juventude é uma economia de mercado, é a concorrência que empurra a sociedade para frente, são as oportunidades iguais que fazem a pessoa depender apenas de si e jamais da boa vontade do governo.
Por isso tudo é que espanta o terreno fértil que idéias tão ultrapassadas encontra em mentes tão jovens e privilegiadas. Um universitário brasileiro tem, em maior ou menor grau, acesso a tecnologias que somente o capitalismo e a economia de mercado poderiam desenvolver. Computadores, smartphones, a própria internet, redes Wi-Fi e 3G e, acima de qualquer coisa, a livre circulação de ideias.
Como pode alguém que vive os benefícios de tudo isso defender modelos e sistemas que não só são a antítese da modernidade e da liberdade, como inviabilizariam tais benefícios pela sua própria característica estatizante, pouco ágil e autoritária?
Numa analogia fácil (e até pueril), seria como fazer uma carreata para defender a volta das carroças.
O problema (e aí não tem graça nenhuma nisso) é que nossos jovens são usados para puxar essas carroças, quando deveriam almejar o controle do desenvolvimento dos automóveis.
Sou otimista, somente mais 500 anos para nós brasileiros usarmos o cérebro para algo mais do que separar as orelhas.
Não existe um projeto factível de nação brasileira, aliás não existe nada. Aos trancos este país vai em frente, estamos até bem, considerando tudo!!!
Precisamos urgentemente de partidos políticos controlados por pessoas honestas, não que vá resolver o problema, mas já é algo.
Que grande nação não seria o Brasil: Meritocracia, liberdade individual, economia de mercado, responsabilidade, transparência e um aviso, escrito no meio do manifesto: o reconhecimento do capitalismo como um sistema a ser melhorado, mas não superado.
Muito bom o artigo. Realmente é um grande paradoxo.
Se ao menos fosse uma ideologia nova, a juventude arejaria nosso país. Mas uma ideologia caquética com todo esse vigor, apesar de tudo, é um desserviço ao futuro de todos nós.
Você fez um retrato impecável sobre a atual juventude brasileira. Triste, mas verdadeiro.
Infelizmente,vivemos num país tão maravilhoso,mas é regido pela politicalha ou politicagem, sem comentário.