Rossano Foresti Oltramari é administrador de empresas, com especialização em Finanças pela UFRGS. Desde 2003, é sócio da XP Investimentos. Analista de investimentos, foi o responsável pela criação da Área de Análise da empresa. Atualmente, lidera a equipe de analistas e assistentes de análise. Oltramari concedeu entrevista exclusiva ao Millenium na qual explica como anda o mercado de capitais e o de ações, chama a atenção para o principal objetivo deste segmento em um país – que é o de financiar empresas e novos projetos (sobretudo neste momento que o Brasil necessita de recursos para infraestrutura), pois os bancos públicos já não dão mais conta. Destaca ainda qual o papel do empresário no atual ambiente de negócios. O executivo acredita também que o que falta para alavancar os investimentos é educação financeira: “As condições econômicas para impulsionar o mercado de capitais nacional estão dadas. Acredito que o tempo e o amadurecimento da sociedade brasileira contribuirão para os próximos capítulos da história deste setor no Brasil”.
Imil: De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), nove empresas fecharam capital no Brasil, entre elas, a Redecar, Marisol S/A e a TAM, que se fundiu com a chilena LAN, formando a LATAM Airlines. Já o número das que abriram capital foi bem menor: BTG Pactual, Unicasa, indústria de móveis e Locoamérica, locadora de veículos. Especialistas explicam que a razão pode estar ligada ao viés econômico-governamental, com a excessiva intervenção do governo na economia. A pesada carga tributária e as frequentes alterações de regras e contratos podem contribuir para a queda do interesse das empresas do funcionamento do mercado, fazendo com que se afastem. O que o pensa a respeito? Há outras implicações para o cenário que se apresenta?
Rossano Oltramari: Primeiramente, é importante observarmos que quando falamos em mercado de capitais não podemos olhar somente para o mercado de ações. O mercado de capitais é muito mais amplo e, na nossa visão, o ano de 2012 foi muito importante para o segmento, com o desenvolvimento muito forte dos títulos privados. Pela primeira vez na história, os brasileiros começaram a ter acesso a produtos como debêntures, CRI, CRA, FII – Fundos de Investimento Imobiliário, entre outros destaques no portfólio dos investidores brasileiros. Falando especificamente sobre o mercado de ações, o ano de 2012 não foi um ano positivo, em grande parte pela crise que a economia mundial enfrentou, causando um movimento de aversão a ativos de risco muito grande no mundo todo. Contribuiu para este cenário o fraco desenvolvimento da economia brasileira que, mais uma vez, apresentou um desempenho bastante aquém das expectativas. Com isso, o ambiente de negócios não ficou fortalecido em função da grande intervenção governamental em alguns setores importantes da economia. Isso tudo faz com que muitas empresas adiem sua estreia no mercado de capitais.
Imil: O Sr acredita que a crise europeia possa contribuir para a saída de empresas, já que o mercado de ações é dependente de investidores, sobretudo estrangeiros?
Oltramari: A crise europeia contribuiu muito para o movimento de aversão a ativos de risco. Obviamente que este movimento fez as empresas repensarem sua entrada no mercado de ações. Não acredito que a crise foi a grande responsável pela saída de algumas empresas do mercado. É muito importante entendermos o motivo da saída destas companhias do rol das empresas com ações listadas na Bovespa. Particularmente, acredito que seja um movimento muito particular destas empresas, não sendo um movimento que possamos interpretar como uma tendência.
Imil: O que coloca mais em risco, além dos impostos, à entrada de mais investidores?
Oltramari: A falta de conhecimento e informação. Acredito que o primeiro passo para atrair mais investidores ao mercado de capitais brasileiro passa pela educação financeira da população. O atual cenário econômico que estamos vivenciando, em que os juros praticados no país começam a se aproximar dos padrões internacionais, favorece uma migração dos investimentos tradicionais da população brasileira (Renda Fixa) para o mercado de investimentos de maior risco e horizonte de maturação maior (Renda Variável).
Imil: Além da reforma tributária, o que o governo poderia fazer para estimular ainda mais o mercado de capitais?
Oltramari: O principal objetivo do mercado de capitais de um país é financiar empresas e novos projetos. No Brasil este papel tem sido exercido, nos últimos anos, em boa parte pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Acreditamos que o BNDES (governo) não tem recursos infinitos para continuar a financiar toda a iniciativa privada brasileira. Portanto, o mercado de capitais brasileiro terá um papel fundamental no desenvolvimento do país nos próximos anos, principalmente na fase que o Brasil está, de grandes investimentos no setor de infraestrutura. E para estimular este mercado, o governo poderia incentivar empresas de médio porte a acessar o mercado de capitais. Nos Estados Unidos, investir em ações já é cultural; na China, os investidores são preparados para aplicar em ações.
Imil: O que falta ao Brasil para alavancar esse segmento?
Oltramari: Educação financeira. As condições econômicas para alavancar o mercado de capitais brasileiro estão dadas, acredito que o tempo e o amadurecimento da sociedade brasileira contribuirão para os próximos capítulos da história do mercado de capitais do Brasil.
Imil: Qual o papel do empresário para a melhoria do mercado?
Oltramari: O papel do empresário é de protagonista neste grande desafio de desenvolvimento do mercado de capitais. Este mercado sempre foi visto com certa desconfiança por grande parte dos investidores. Nos últimos anos, esta imagem vem sendo reconstruída com o aumento do nível de governança nas empresas, com maior transparência e maior fluxo de informação. Tudo isso eleva o nível de confiança no mercado e, consequentemente, aumenta o fluxo de capital para este mercado.
Imil: De que forma o Instituto Millenium pode contribuir para difundir essas ideias e ajudar a fortalecer valores como a democracia, estado de direito e economia de mercado?
Oltramari: O Imil tem o poder de formar opinião, sobretudo quando discute a excessiva intervenção governamental na economia, que muda regras e contratos e não dá liberdade ao mercado. Avançamos muito, mas estamos dando passos para trás. Acho que críticas construtivas são muito bem-vindas, pois mostram como tais medidas podem ter efeitos nocivos para sociedade.
Discordo do autor. Como muitos, creem que nossa sociedade melhorara com educação, esse veio com educação financeira. Oras, precisamos mesmo é gente de melhor qualidade e para chegar-mos a isto, temos um longo caminho a percorrer que começa com um amplo, abrangente e rigoroso controle da natalidade. Temos gente demais sem a menor capacidade de criar uma criança, quer seja financeira, social ou familiar.