Os empreendedores musicais sofreram um forte revés com a popularização da internet e a consequente modernização dos meios de reprodução e distribuição do material fonográfico. Para iluminar as possibilidades de reinvenção do mercado musical, a Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) promove, de 18 a 20 de abril, o seminário “ABMI Digital & Sync – Aprenda a monetizar o seu conteúdo musical”, no Centro de Convenções Bolsa do Rio (CCBR).
Para compreender a trajetória dos empreendedores musicais no contexto atual, marcado pela revolução digital, o Instituto Millenium conversou com diretora executiva da ABMI, Luciana Pegorer. Confira a entrevista.
Imil: O que o setor musical tem a ensinar sobre o gerenciamento de crises?
Luciana Pegorer: Acho que a grande lição que se tira dessa crise é a capacidade de transformar obstáculo em oportunidade. A indústria da música era monopolizada por poucas e gigantes empresas multinacionais. Nenhum pretendente a uma carreira artística a conseguiria fora de uma dessas gigantes. Da mesma forma, nenhum profissional que quisesse trabalhar com distribuição de música gravada o faria fora desse ambiente.
Com a crise, essa realidade mudou. Enquanto as grandes tentavam manter seus negócios, empresas e artistas independentes se utilizavam do inusitado e encontravam os caminhos para atingir um novo consumidor que surgia, mostrando novas formas de se promover e distribuir música. Novas empresas e modelos de negócios surgiram dessa crise muito mais adaptadas aos novos formatos e novas mídias. Hoje, o setor independente é enorme, está se organizando em associações e se fortalecendo na formação de um mercado inédito, com formas de exposição e distribuição de conteúdo musical. O setor musical está renascendo em bases totalmente diferentes.
Imil: Como a burocracia e a alta carga tributária afetam o setor fonográfico?
Luciana Pegorer: A carga tributária e em especial a substituição tributária do ICMS representa o maior entrave à distribuição de produtos da indústria da música, em especial aquela que representa a diversidade da música brasileira. O faturamento de produtos no nosso setor se dá em 60 a 90 dias e o ICMS/ ST por ser recolhido na fonte, exige do produtor uma reserva de caixa muito alta e um risco elevado pois o lojista tem a prerrogativa da devolução de produtos, além do calote que não é incomum. O imposto pago, dependendo do regime tributário do produtor, não é devolvido. Esse imposto impede também a prática da consignação de produtos para outros estados, o que diminui a possibilidade de venda e exposição de artistas novos.
A ABMI está batalhando no Congresso Nacional a aprovação da chamada PEC da Música que elimina esse imposto da distribuição de produtos fonográficos e videofonográficos, os equiparando ao livro como produto cultural. Conseguimos aprovação na Câmara dos Deputados e estamos trabalhando a aprovação no Senado. O tema é praticamente unanimidade, mesmo assim, já estamos há cinco anos nessa batalha.
Imil: Qual o primeiro passo para monetarizar o negócio musical na era digital?
Luciana Pegorer: O primeiríssimo passo é organizar e digitalizar os catálogos, tomar posse e controle do seu conteúdo. A partir daí, escolher os seus parceiros, que o ajudarão a colocar isso tudo na rede e monetizá-lo. Pelo lado da ABMI é cuidar para que o conteúdo dos independentes seja valorizado, instruir, orientar e manter o mercado informado das novas tecnologias, novos players e oportunidades que surgem a cada dia nessa era superveloz.
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