Populismo, corrupção e desenvolvimento desordenado são as armadilhas a que estarão expostos os futuros prefeitos e vereadores de São João da Barra, Itaguaí, Itaboraí, Maricá e Resende, polos de investimentos bilionários no Estado do Rio nos próximos anos. O alerta, feito por especialistas, pode evitar problemas ocorridos nas últimas décadas em cidades como Campos e Macaé, que tiveram seus orçamentos engordados pelos royalties. Em Campos, o total pulou de cerca de R$ 130 milhões no fim da década de 1990 para R$ 1,5 bilhão dez anos depois (com a nova Lei do Petróleo).
— No início, o incremento orçamentário era gasto de forma supérflua, irresponsável, populista, o que foi apelidado de “farra dos shows”. O prefeito fica seduzido pela chance de ter uma popularidade imediata, e é tentador dar pão e circo ao povo. A primeira coisa que faz é inchar o quadro da prefeitura, comprometendo com custeio todos os recursos que entram. Depois faz shows nas praças. É o caminho mais certo para o buraco — afirma o presidente regional da Firjan no Norte Fluminense, Geraldo Coutinho.
‘Isca para gana de políticos’
Em Macaé, destaca Coutinho, efeitos maléficos da avalanche de recursos do petróleo são percebidos até hoje na forma de uma imensa periferia urbana, sem infraestrutura para os moradores:
— A cidade atraiu muita gente em busca de oportunidade. Chegou a tal ponto que não há hoje dinheiro no mundo que resolva aquele problema.
O professor do departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense Leonardo Mulz diz que falhas em regulamentações e marcos legais, muitas vezes com instituições enfraquecidas, e a falta de preparo e conscientização popular compõem um cenário onde é difícil conter o “ímpeto da apropriação indevida”:
— É uma isca para a gana de políticos, que almejam ganho fácil e projeção a curto prazo. Apesar da melhora, as instituições e a sociedade ainda não conseguem rechaçar a corrupção a contento. É preciso que conselhos, comissões municipais e a rede de aparato jurídico se fortaleçam, para minimizar o oportunismo.
Coutinho, da Firjan, diz que, quando a sociedade organizada consegue direcionar os recursos do orçamento, surge uma “onda saudável” nos municípios. Mas tanto ele quanto Mulz ressaltam que é preciso planejamento de longo prazo para receber os investimentos, com obras de infraestrutura, além de melhorias nas áreas de saúde e educação (básica e técnica), para atender não só à população local como a que costuma “invadir” esses eldorados atrás de empregos.
— Dessas cinco cidades, São João da Barra é o caso mais delicado. A dimensão proporcional do investimento que será feito lá não tem paralelos, considerando-se o tamanho do município. São 35 mil habitantes hoje, 250 mil em dez anos. É preciso mitigar os problemas que virão com o dinheiro, administrar o processo de desenvolvimento — alerta Coutinho.
Para o economista Mauro Osório, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de planejamento, os municípios precisam de mais coordenação política e estatísticas sobre seus problemas.
— Nos últimos 40 anos, os municípios não conseguiram aproveitar as oportunidades que tiveram. É preciso mudar esse quadro — afirma.
Fonte: O Globo, 25/09/2012
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