Tripé macroeconômico, meritocracia e contas públicas. Esses foram os principais temas debatidos durante o “I Colóquio de Macrotendências da Economia Brasileira”, realizado, em parceria pelo Ibmec, Instituto Millenium e Instituto Liberal Rio, em 17 de outubro, no Rio de Janeiro. O evento reuniu os ex-presidentes do Banco Central do Brasil Armínio Fraga, Gustavo Franco e Henrique Meirelles, além do economista Raul Velloso e do professor do Ibmec, Marcelo Mello.
Armínio Fraga afirmou que o modelo econômico brasileiro passou a apresentar problemas a partir do segundo mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva, quando houve uma guinada em direção a uma economia mais fechada. A partir de então, foram adotadas políticas de incentivos setoriais e um aumento do foco no crédito. Já sobre o governo Dilma Rousseff, o fundador da Gávea Investimentos chama atenção para a flexibilização dos componentes do tripé macroeconômico: controle fiscal, meta da inflação e câmbio flutuante. “Temos uma situação desagradável de inflação alta e crescimento baixo. Falta foco nos fatores que podem trazer um crescimento real como educação e eficiência”, opinou ele.
Assim como Fraga, Henrique Meirelles lembrou que, no início do governo Lula, o Brasil cresceu com o bônus da estabilização alcançada nos governos anteriores. “Em 2003, o superávit primário estava alto. O cenário era favorável e o Brasil crescia exportando manufaturados”, explicou Heirelles.
Gustavo Franco falou sobre um ataque generalizado a ideia de meritocracia. Segundo ele, a redução da correlação entre a escolaridade e o salário está deturpando a formação profissional no país. Ele também se mostrou preocupado com o saque ao futuro. “Existe a ideia de que há algum tesouro escondido e que, por isso, podemos ter uma dívida ilimitada”, alertou Gustavo.
Raul Velloso chamou a atenção para o problema do controle das contas públicas. O ex-secretário de Assuntos Econômicos do ‘Ministério do Planejamento’ afirmou que o orçamento da União se tornou uma grande folha de pagamentos. Segundo o especialista do Instituto Millenium, 73,4% das nossas receitas são gastas com o pagamento dos salários e benefícios de funcionários públicos. “Mais da metade da população brasileira é sustentada pela União. Poderia ser criado um ministério da folha de pagamento”, ironizou.
Marcello Mello, professor de Economia do Ibmec-RJ, afirmou que o Brasil está na contramão das reformas pró-crescimento. “Mantendo a situação corrente, o atraso do Brasil em relação à fronteira do crescimento continuará”, explicou Mello.
Rodrigo Constantino, presidente do Instituto Liberal, fez uma provocação aos palestrantes. Ele pediu que comentassem a declaração de Marina Silva, que recentemente afirmou que a presidenta Dilma teria rasgado os princípios do tripé macroeconômico.
Para Armínio Fraga, isso não aconteceu, mas a presidente tem contribuído para uma preocupante fragilização do tripé. Irônico, Gustavo Franco afirmou que a situação representa uma mudança importante. “Acho muito interessante que a Marina esteja preocupada com o tripé”, concluiu.
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