O governo, mais uma vez, sugere que as concessões que podem sair neste ano serão um marco na recuperação econômica. A sensação do “agora vai” novamente parece ter tomado de assalto a trupe de Brasília.
Cada vez que penso nos desejos do governo, fico com a sensação de “não, agora não vai, de novo”. Há uma concepção histórica recorrente por traz desse sentimento.
O Brasil, na acepção feliz do sociólogo José de Souza Martins, é um país onde a história é lenta. Diria mais. É lenta e incompleta.
Na Independência, introduzimos os velhos modelos imperiais pré-Revolução Francesa via Poder Moderador. Fomos os últimos a abolir a escravidão, mas ficou de resíduo uma desigualdade racial velada.
A industrialização, quando chegou, veio de mãos dadas com o Estado, legado de Getúlio. A hiperinflação teimou a cair, sem se completar os ajustes definitivos com os retrocessos institucionais que se seguiram a partir de 2005, nos governos Lula e Dilma.
Faltaria agora justamente o que o governo tenta vender, que é uma suposta revolução na produtividade, que viria primordialmente das concessões. Mas, novamente, a lentidão abraça a incompletude.
Neste ano, teremos, se muito, algumas concessões apenas nas áreas de rodovias, aeroportos e petróleo. Mas, dada a incerteza regulatória, deve haver atrasos nas concessões em que o governo mais interfere, como no caso das rodovias e ferrovias.
Não nos parece que haverá uma avalanche de concessões que resultará num empuxo de produtividade. Para crescer acima da média mundial, precisamos de um choque muito mais intenso e nossa própria história nos remete a essa ideia.
Desde a década de 80, notamos que apenas em três momentos crescemos acima da média mundial. Primeiro, na época do Plano Cruzado. Segundo, no Plano Real. Terceiro, em meados da década passada, como efeito de China e reformas precedentes dos anos 1990 e 2000.
Não se consegue ver hoje uma causa concreta para crescermos acima da média mundial. Pelo contrário, devemos manter um padrão abaixo de uma média mundial já baixa, de 3% ao ano. A lentidão das privatizações parece ser um elemento contra a crença de que teremos um crescimento rápido e intenso.
Mais ainda, o governo deixa de focar o que os estudos sistematicamente mostram como o elemento mais relevante para estimular o crescimento de longo prazo: a educação. É aqui que o movimento tem sido muito lento, quando não negativo.
Esses mesmos equívocos são vistos na acepção de que as desigualdades regionais seriam diminuídas com melhora da infraestrutura, aumento da participação da indústria e pela existência do Bolsa Família.
Estudos de Alexandre Rands mostram que 100% da diferença de renda entre Sudeste e Nordeste se deve a diferenças na qualidade do capital humano, leia-se educação. O resto é importante, mas não fundamental.
É nesse sentido que nossa história se mostra lenta –no atraso em identificar as verdadeiras causas dos problemas– e incompleta –por atacar parcialmente os problemas existentes, focando falsas questões. Fica difícil imaginar o país crescendo muito nos próximos anos.
Fonte: Folha de S. Paulo, 26/08/2013
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