Na primeira reunião do COPOM em 2011 ocorreu o que o mercado já esperava: aumento da taxa SELIC em meio ponto percentual, deflagrando o início de um ciclo de alta na taxa básica de juros com o objetivo de controlar a inflação. A partir deste novo cenário, podemos inicialmente lançar duas indagações:
1. Qual será o tamanho do ajuste necessário na nossa prime rate tupiniquim de tal forma que seja suficiente para que a inflação esperada possa convergir para o centro da meta (4,5% ao ano) estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional?
2. Até que ponto esta trajetória ascendente da taxa SELIC que ora se inicia pode comprometer e alterar a atual análise de custo de oportunidade que feita pelos bancos entre, por exemplo, investir produtivamente carregando suas carteiras de crédito imobiliário e fazendo girar a roda da economia através da movimentação de toda cadeia produtiva da indústria imobiliária, ou especular financeiramente e voltar à prática dos ganhos de tesouraria e a prazerosa relação incestuosa com o BC e o Tesouro Nacional?
Pois bem, em relação à primeira questão, inicialmente vale ressaltar que o ajuste na SELIC já deveria ter começado há mais tempo, antes mesmo das eleições, uma vez que se observando a série temporal do IPCA (IBGE), que é o índice de preços oficialmente utilizado para fins de acompanhamento do regime de metas de inflação, após registrar variação zero em junho de 2010, 0,01% em julho e 0,04% em agosto, saltou para 0,45% em setembro, daí para 0,75% em outubro, 0,83% em novembro e fechando o ano passado, com 0,63%. Ou seja, houve de forma inegável, visível e transparente para quem analisa os números, uma brutal mudança no patamar inflacionário, condicionado especialmente pelo comportamento em alta dos preços das commodities, a entressafra da carne e os hortifrutigranjeiros devido às condições climáticas adversas.
Em suma, se o governo populista do ex-presidente Lula tivesse realmente atenção com os mais pobres, teria se preocupado menos com as eleições e mais com a estabilidade monetária, uma vez que, sabidamente, a inflação é o pior dos impostos, visto que ela penaliza os mais pobres que não tem como se defender da corrosão do salário real que ela causa, ao contrário dos mais favorecidos que possuem mecanismos de indexação para proteger seus ativos da corrosão inflacionária.
Agora, quanto ao tamanho do ajuste que será feito na taxa SELIC ao longo deste ano, creio que tal dimensão dependerá, primeiramente, da contribuição que o governo Dilma dará em termos de buscar um sólido e duradouro ajuste nas contas públicas, não somente reduzindo os gastos correntes, mas, sobretudo, qualificando os dispêndios públicos de forma a valorizar as receitas tributárias que são obtidas através do esforço fiscal que é requerido da sociedade contribuinte, o qual já está em muito acima da capacidade contributiva das famílias e empresas.
Em segundo lugar, somente a ampliação da capacidade de oferta (produção) da economia brasileira poderá acomodar pressões inflacionárias advindas da crescente demanda que é resultante do maior ritmo de crescimento e da mobilidade sócio-econômica da população. Todavia, cumpre lembrar que, o aumento da taxa SELIC atua na contramão desse processo, visto que juros básicos em ascendência inibem e adiam decisões de inversões de capital de médio e longo prazo e que implicariam em ampliação ou instalação de novas plantas industriais e comerciais.
Por fim, no tocante a análise de custo de oportunidade que é feita pelos bancos, creio que uma SELIC no patamar de até 12% não é capaz de modificar o viés em favor do crédito imobiliário, por exemplo, considerando-se o atual patamar das taxas praticadas na concessão de crédito habitacional e impacto multiplicador que é proporcionado pela fidelização dos clientes tomadores de financiamentos imobiliários, uma vez que estes de alguma forma manterão uma relação por 20, 25 ou 30 anos com o agente financeiro, que poderá oferecer outros produtos bancários tais como, cheque especial, cartões de crédito, planos de previdência privada complementar, seguros, aplicações, etc. E por que até este patamar de 12%? Porque pela chamada paridade descoberta da taxa de juros teríamos o seguinte desdobramento: Inflação (IPC-A) esperada para os próximos 12 meses conforme última pesquisa FOCUS do BC: 5,35%; Cunha fiscal incidente sobre os papéis negociados no mercado: 2%; Cupom cambial (taxa de juros em dólar no mercado brasileiro): 2%. Descontando-se tais componentes da SELIC BRUTA tem-se uma rentabilidade real de 2,18%, que é menor do que a rentabilidade que é obtida pelos agentes financeiros que operam crédito imobiliário e que também obtém o que eu chamaria de “ganhos de fidelização”.
Já no caso do ajuste na SELIC ao longo de 2011 ser superior a 225 pontos base (dois vírgula vinte e cinco pontos percentuais), bem, aí, neste caso, é preciso primeiro saber qual será a expectativa de inflação para os próximos 12 meses quando alcançarmos tal patamar de SELIC, se alcançarmos, uma vez que o cálculo da rentabilidade líquida dependerá mais do patamar inflacionário do que da cunha fiscal e do cupom cambial.
Uma coisa é certa: O cenário mudou. No radar econômico, 2010 com seu crescimento do PIB da ordem de 7,5% e geração recorde de empregos formais ficou para trás produzindo no máximo um efeito carregamento (carry over) para 2011 que garantirá parte do crescimento que teremos ao longo do corrente ano, cuja equação parece estar dada: Juros em elevação, menos investimentos, menos empregos.
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