Nós últimos dias, o Ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, anunciou sua articulação com o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez, que visa trazer ao Brasil 6 mil médicos cubanos para trabalhar no interior do País, região que sofre certa escassez desses profissionais. O anúncio veio acompanhado de declaração do Conselho Federal de Medicina (CFM) — classificada por alguns de virulenta e corporativista — manifestando-se contra o tal intercâmbio profissional entre os dois países, já que 89% dos médicos cubanos, inscritos para revalidar seus diplomas no Brasil, não atingiram a pontuação mínima exigida, segundo o INEP. Ou seja, entre os 182 profissionais no exame em 2012, apenas 20 foram aprovados, uma realidade lastimável. O maior desafio parece ser localizar o que será mais interessante para o nosso país, do ponto de vista do interesse público.
Será que podemos dizer que a medicina é uma profissão “elitista” no Brasil? Não é errado afirmar que sim, já que o Brasil forma 13 mil médicos por ano, advindos das 200 faculdades de medicina do Brasil (maioria de faculdades particulares) e há certa concentração desses médicos no Estado de São Paulo, até mesmo nos intercâmbios em que 42% dos 7 mil médicos estrangeiros, que conseguiram revalidar seus diplomas no Brasil, nos últimos dez anos, estão neste Estado. O suposto cenário “elitista” na medicina não ocorre porque governantes de direita, “capitalistas malvados”, conspiraram juntos, visando privar a população pobre ao acesso a tais serviços — Tal ideologia holista de esquerda, que propõe a absurda luta de classes, é tão anacrônica quanto inconsistente, e a passionalidade para estes é muito mais importante do que a realidade.
A “escassez” na formação de médicos se deve à falta de gestão adequada na educação, vinda desde sua base, atrelada à alta exigência técnica que precisa ser exigida por profissionais desta área, afinal não se entrega a vida a “qualquer um”. Felizmente, a qualificação não leva em conta a história do profissional, se ele é pobre ou rico, brasileiro, cubano ou norte-americano e sim se ele está apto para o ofício. Logo, àqueles que lutam pela “democratização” da formação de médicos deveriam exigir aumento na infraestrutura e qualidade educacionais e não a baixa de parâmetros de avaliação técnica desses profissionais, a fim do preenchimento dos números apenas.
Apesar da análise sumária, é evidente que existem questões de mercado que atraem os interesses desses profissionais para determinadas regiões, como ocorre em qualquer profissão e não há como negar que existe carência desses serviços em certas localidades, no interior do País. Neste sentido, o intercâmbio poderia ser algo positivo já que Cuba, com apenas 13 milhões de habitantes, forma 11 mil médicos ano. A questão é que além da incerteza quanto à qualificação técnica desses médicos, haveria a necessidade de se revalidar automaticamente esses diplomas, o que é também ilegal.
Há de se reconhecer também que, a despeito dos dados divulgados por regimes ditatoriais não serem nada confiáveis, a medicina preventiva da ilha caribenha apresentou crescimento significativo em alguns índices, como mortalidade infantil (mais baixa da América Latina, ainda inferior a EUA e Canadá) se comparado aos anos anteriores. No entanto, é óbvio que esse índice não pode ser o único referencial para afirmar excelência nesse âmbito, haja vista que a maioria dos médicos de lá não conseguiram sequer ser aprovados aqui.
Intercâmbios, tanto profissionais, quanto de conhecimento entre países, são essenciais e obtiveram impacto significativo com o advento da globalização e de parcerias em formatos de blocos econômicos, responsáveis pela abertura de mercados, do livre comércio e da livre circulação de serviços e de pessoas entre os países. No entanto, é claro que, além das questões de viabilidade técnica, o elemento ideologia ou certa identidade de pensamento entre os governantes que firmam esses tratados internacionais é algo comum e também natural que assim sejam. O problema é quando o campo ideológico do governante é um referencial mais forte do que as questões técnicas envolvidas em algum acordo, o que pode punir, de forma crassa, a população desses países.
Felizmente, o CFM não enxerga apenas a questão quantitativa, existem parâmetros de qualidade que são necessários para quem atua nesta área. A prova de revalidação do diploma pode, sim, ser questionada, mas a realidade é que existem órgãos e pessoas responsáveis e competentes para avaliar se os profissionais que se formaram fora do país— essa regra não vale só para Cuba— têm condições técnicas de atuar aqui no Brasil e tenha certeza, leitor, que esses profissionais qualificados para tal avaliação não estão trabalhando no Ministério de Relações Exteriores.
Questionar as normas?
Muito bom, contanto que se apresente uma contraproposta qualitativa para a mudança das mesmas. O mercado está com escassez de engenheiros também, será que o problema está nos padrões de avaliação? Vamos acabar com o Crea e baixar o padrão de avaliação, assim conseguiremos preencher o mercado, que tal?
Se os cubanos são excelência, mesmo, em medicina, como gosta de se gabar a esquerda, com certeza, terão condições de revalidar seus diplomas. Agora, se não estão conseguindo fazê-lo, algo pode estar errado e não seria muito sensato pensar que o erro é do Conselho de Medicina, o qual compete a função de fazer esta fiscalização. Pensar diferente disso seria o mesmo que adotar a lógica do marido que, ao pegar sua esposa traindo-o no sofá, prefere a troca do móvel ao divórcio. Se não abrirmos nossos olhos hoje e refletirmos de maneira objetiva, amanhã poderemos acordar numa Argentina, numa Venezuela ou até mesmo em Cuba, em que até nosso direito de reflexão nos será tolhido.
Tenho a impressão, de que alguém quer recomeçar uma história que teve fim em 1973/74.
Dessa vez,o reinício teria catequese por outras vias.
Por melhor que seja o nosso diplomata, agora é tarde!
Missão Impossível!