Para 157 empresas brasileiras ouvidas por uma consultoria, o excesso de burocracia superou os gargalos históricos do setor portuário nos últimos anos
Filas quilométricas de caminhões, buzinas estridentes, estresse, horas de engarrafamento e milhares de reais em prejuízos. Caos era a palavra que melhor definia o quadro que se formou em março nas proximidades do Porto de Santos, o mais importante ponto de saída para o comércio exterior. Medidas paliativas foram anunciadas, mas os transtornos voltaram menos de um mês depois. As super-safras de soja e de milho foram culpadas, mas o cenário só escancarou uma dura realidade brasileira: a falta de uma logística integrada, que inclui insuficiência de armazéns nas fazendas, problemas nas estradas de acesso ao litoral, falta de alternativas ao transporte rodoviário e o estrangulamento dos portos. Claro, não há novidade nos relatos acima, mas existe uma surpresa na reclamação dos usuários. Pela primeira vez, o excesso de burocracia do sistema portuário é apontado como o principal entrave dos portos do país.
O costume de enfrentar uma infraestrutura estrangulada no país ou o cansaço com as reclamações em vão para o poder público podem ter provocado a resposta que Instituto Ilos encontrou numa pesquisa com 189 profissionais de logística de 157 grandes empresas do Brasil. Para 61% dos entrevistados, a burocracia é um importante gargalo que prejudica a agilidade na saída de produtos para o mercado internacional. Essa é a primeira vez que as críticas contra a infraestrutura portuária brasileira são ofuscadas. Em 2012, dentre os dez principais problemas apontados pelos usuários, apenas três estão relacionados à deficiência de infraestrutura (Porto saturado, Acesso rodoviário e Infraestrutura de armazenagem), contra cinco do estudo realizado em 2009. As críticas em relação à operação portuária, representada pelo tempo de liberação das mercadorias, o relacionamento com as autoridades públicas e a janela de atracação de navios, aumentou nesta última pesquisa.
Sobrecarga – É importante reforçar que a queda no ranking de reclamações não significa que os problemas de infraestrutura tenham sido resolvidos. Num país em que o volume de cargas movimentadas cresceu 78% entre 2001 e 2012 – de 506 milhões de toneladas para 904 milhões de toneladas -, os desafios ainda são gritantes e os investimentos necessários são de bilhões de reais. A saturação dos portos é o segundo item que mais recebeu reclamações – 53% dos entrevistados o apontaram como problema. Nos principais portos do país, Santos e Paranaguá, é o líder em reclamações: 73% e 67% de seus usuários, respectivamente, indicam que o porto está sobrecarregado.
Aos entrevistados foi dada uma lista de possíveis problemas para eles classificarem como de maior ou menor impacto para o negócio. Dos 20 itens, 18 receberam mais reclamações em 2012 do que em 2009 – apenas “Calado” e “Baixa frequência dos navios” diminuíram seus porcentuais. “O porto voltou a ficar cheio, a infraestrutura não está dando conta e o tempo de espera aumentou. Isso faz com que o usuário perceba mais problemas”, explica ao site de VEJA, Maria Fernanda Hijjar, diretora de Inteligência de Mercado do Instituto Ilos.
Outra observação importante é que as discussões sobre as mudanças nas regras portuárias aumento a cobrança dos brasileiros. “Ao ouvirem falar de experiências bem-sucedidas no exterior, a exigência também muda para o Brasil. Começam a ser feitas comparações”, diz.
Levantamento do Instituto Ilos feito em 2012 mostrou que a burocracia é vista pelos usuários dos portos como um problema ainda maior do que a própria infraestrutura
Exigências burocráticas
A quantidade de documentos, as inúmeras exigências legais de diversas agências reguladoras e o tempo de liberação do embarque ou desembarque de cargas por conta da verificação da ‘papelada’ nos portos brasileiros, ou seja, a burocracia, são os principais problemas apontados por usuários do modal portuário em pesquisa do Instituto Ilos feita no ano passado. Cerca de 61% dos 189 entrevistados identificaram a presença deste gargalo nos portos brasileiros – número bem superior à pesquisa de 2009, quando apenas 32% dos entrevistados viam a burocracia como um problema, e também à de 2007 (33%).
Fonte: Veja.com
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