A alemã E.ON queria porque queria fincar seus postes no mercado brasileiro de eletricidade. Até o mês passado, era uma das favoritas para ficar com as ações da EDP, que o governo português pôs à venda.
Tudo para se beneficiar dos investimentos que a própria EDP fez no Brasil nos últimos anos.
Derrotados pelos chineses de Três Gargantas, os alemães (que também tiveram como adversárias as brasileiras Cemig e Eletrobras) encontraram outro caminho. Associaram-se ao empreendedor Eike Batista.
Pelo acordo, a E.ON investirá R$ 1 bilhão na compra de 10% da MPX, de Eike. Juntas, as duas companhias farão um investimento total de R$ 18 bilhões nas termelétricas que a MPX pretende construir no Complexo de Açu, no litoral norte do Rio de Janeiro, no Maranhão e em outras partes do país.
Os benefícios para os dois lados são evidentes. A empresa de Eike ganha, junto com o novo sócio, uma experiência operacional que custaria a desenvolver se continuasse sozinha.
A E.ON, por sua vez, chega ao Brasil ao lado de um empreendedor que conhece o mercado – tanto naquilo que ele tem de bom e atrativo quanto em seus aspectos mais complicados.
Eles não são poucos e, muitas vezes, fazem as empresas estrangeiras perderem tempo e dinheiro num processo de adaptação nem sempre bem-sucedido.
O Brasil, como se sabe, é um país onde as leis de mercado muitas vezes não se aplicam em sua totalidade. É um país que exige jogo de cintura mas que oferece oportunidades de ouro a quem pensa em explorá-lo.
É lógico que uma demonstração de interesse como a que foi dada pelos alemães precisa ser avaliada em sua verdadeira dimensão e importância. O Brasil precisa, sim, de tudo o que eles podem oferecer.
Mas também é, ao lado de Índia, China, Rússia, Turquia e de mais uns cinco ou seis mercados, um dos poucos pontos da Terra em que os grandes investidores internacionais têm a oportunidade de recuperar o dinheiro que estão perdendo em seus países de origem.
As carências do país são enormes e as necessidades são crescentes não apenas no campo da energia elétrica. Elas existem também em outros setores.
Alguns deles, infelizmente, sofrem com o excesso de regulamentação que afugenta possíveis investidores.
O Brasil superaria com muito mais rapidez as suas deficiências e tiraria com mais agilidade o atraso que separa a qualidade de alguns serviços da que é oferecida em outras partes do mundo se houvesse mais disposição em acabar com alguns feudos que ainda resistem.
Anos atrás, o apagão da eletricidade, nos momentos finais do governo de Fernando Henrique Cardoso, teve como consequência uma maior flexibilidade nas regras que facilitaram o acesso de novos investidores a um dos setores mais sensíveis da economia. Ótimo.
Precisou que houvesse um apagão permanente nos aeroportos brasileiros (que, sem sombra de dúvida, estão entre os piores do mundo) para que o governo tirasse da gaveta a ideia de privatizá-los.
O interesse da E.ON pelo Brasil deveria servir de estímulo para que o governo reduzisse a regulamentação que ainda pesa sobre alguns setores. Dinheiro para resolver nossos problemas existe.
O que falta é dar ao investidor a segurança de que ele terá retorno.
Fonte: Brasil Econômico, 11/01/2012
Mais uma empresa estrangeira que tem grande eficiência no mercado, mas que ao entrar no brasil decairá inevitavelmente, pois terá que se aliar à política nacional para fazer negócios que virarão negociatas. É como disse o Lula: se Cristo vier ao brasil, beijará o diabo.