A história mostra que assim como fizeram os países mais desenvolvidos, o Brasil pode modificar e reduzir os seus índices de criminalidade
A matéria de capa da revista “The Economist” de 20 de julho passado tinha o título de “O curioso caso da queda do crime”. Nela, a revista analisa a impressionante queda da criminalidade nos países desenvolvidos ao longo das últimas décadas. Tomando como base a incidência de crimes na década de 1990, nos Estados Unidos e na Europa, e sua evolução ao longo dos anos, a matéria revela que ao invés de se cumprirem algumas previsões feitas naquela época, que apontavam um cenário dramático, com o incremento da criminalidade como uma verdade insofismável e que custaria caro para todas as nações, o que de fato aconteceu foi o oposto. O crime caiu vertiginosamente para patamares inimagináveis poucos anos atrás.
Começando com o roubo e furto de veículos, crime em alta constante no Brasil, na cidade de Nova York, em 1990, foram roubados 147 mil veículos. No ano passado, foram menos de 10 mil. Em 1997, 400 mil carros foram roubados na Grã-Bretanha e, no País de Gales, em 2012, esta cifra caiu para 86 mil. E a mesma realidade vai se confirmando em todos os países desenvolvidos, com os mais variados tipos de crimes em queda livre, a começar pelos Estados Unidos, onde a reversão do quadro se deu em primeiro lugar, no início da década de 1990, sendo seguido por Japão, Reino Unido e França, até países como a Estônia, onde em meados da década de 1990 os teatros fechavam às 18 horas porque era arriscado demais andar nas ruas depois do pôr do sol. De lá para cá, as taxas de criminalidade na Estônia despencaram, com os assassinatos caindo 70% e roubos em geral e o furto de veículos acompanhando de perto este índice.
Em Nova York, Chicago e Los Angeles, algumas das cidades mais violentas do mundo, de meados de 1990 para cá alguns crimes caíram até 90%. Em Manhattan, naquela década o índice de assassinatos por 100 mil habitantes chegou a 29. Em 2012 caiu para 1.5. E no Reino Unido os assaltos à mão armada a bancos, escritórios e correios caíram de 500 por ano na década de 1990 para 69 no ano passado. Mas mais importante do que a constatação da queda da criminalidade em geral, é a análise das causas que levaram a isso. É com base nela que nós podemos ter esperança de reverter o quadro apavorante de mais de 50 mil assassinatos por ano.
A verdade é que o que acontece hoje aqui e que tem um desenho completamente diferente nos países ricos já foi muito parecido neles também. Tráfico de drogas – crack e cocaína nos Estados Unidos e heroína na Europa -; tráfico de pessoas no leste europeu; roubo de carros e assaltos a mão armada a postos de combustível e lojas de conveniência foram parte da realidade de todos eles. E deixaram de ser. Não por uma razão específica, mas pela conjunção de uma série de fatores que atuaram positivamente para modificar a realidade, principalmente a urbana, na maioria dos países desenvolvidos.
O primeiro fator determinante para queda da violência foi a mudança das taxas de crescimento da população. Com taxas mais baixas, as populações envelheceram e um número expressivo de crimes normalmente cometidos por jovens simplesmente saíram de moda pelo aumento da idade das pessoas. Mas há outras razões tão importantes quanto essa, tanto no campo social, como nas áreas de prevenção e combate à criminalidade.
O Brasil tem na falta de políticas sociais inclusivas o maior de todos os seus problemas. Enquanto parte significativa da população morar em favelas miseráveis, sem saneamento básico e com pouco acesso à saúde, não há como modificar o quadro que condena os jovens, por não terem acesso à educação de qualidade, à pobreza ou ao tráfico como solução mais fácil para sair dela.
É indispensável deixar a demagogia de lado e implementar políticas públicas para modificar o quadro. Além delas, é fundamental remunerar bem, treinar e equipar a polícia. Adotar leis afinadas com a realidade e fazer com que sejam aplicadas.
A matéria da “The Economist” mostra que há esperança. Depende de nós todos fazer a lição de casa que com certeza tornará os seguros mais baratos.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 19/08/2013
A falta de políticas inclusivas deve ser a causa principal do aumento da criminalidade. O jovem abandonado ao seu entorno, sem qualquer esperança de educação, saúde e trabalho, só tem como perspectiva a adesão ao tráfico de drogas, com suas trágicas consequências. Morte, prisão ou tornar-se um adicto.
No dia em que a Humanidade de fato entender que os piores criminosos são os estados que não investem em políticas inclusivas, e que sejam então julgados perante a CIJ por crimes contra a Humanidade, países como o Brasil tornar-se-áo mais conscientes dos deveres de seus governantes.