Quem, na sua opinião, é o principal candidato a tomar o calote de um sujeito perdulário que, como sempre acontece, acaba tendo mais contas a pagar do que dinheiro no caixa?
Opção 1) aquele sujeito que faria uma cobrança dura e deixaria de vender a crédito logo ao primeiro atraso. Opção 2) aquele cunhado que vai deixar tudo como está e, dependendo da situação, até perdoar a conta?
Qualquer pessoa sensata, claro, escolherá a opção 2 e é justamente isso que o membro pleno do Mercosul, Venezuela, tem feito com o Brasil. Nas relações entre os dois, o Brasil é: tratando o país como se ele fosse o sujeito que tudo perdoa e tudo aceita do cunhado aproveitador.
Conforme reportagem publicada pelo “Brasil Econômico”, na edição de sexta-feira passada, um departamento qualquer do Banco Central da Venezuela está, simplesmente, retardando os pagamentos aos exportadores brasileiros.
Isso pode parecer pouco. Afinal, os 30 milhões que a Venezuela deve aos exportadores brasileiros de carne há mais de 90 dias não farão tanta diferença assim nas contas de um comércio bilateral que somente este ano deve alcançar a cifra de US$ 4,7 bilhões.
Mas não é. Esse calote quer dizer apenas que, podendo escolher quem vai e quem não vai receber o dinheiro pelos produtos que importa, a Venezuela escolhe deixar os brasileiros sem receber. Simples assim.
O agravamento do estado de saúde do presidente Hugo Chávez, que se internou em Cuba para se tratar de um câncer que, tudo indica, está fora de controle, coincide com o ocaso de um regime que é a sua cara. E, naturalmente, serve de lição para o Brasil.
A Venezuela, como se sabe, é um grande produtor de petróleo e usou o dinheiro farto que recebia quando o preço internacional estava nas alturas para ampliar os direitos da população. É o tipo da decisão que, tomada sem o devido cuidado, pode gerar mais problemas do que benefícios.
Bastou que os preços do petróleo caíssem e o dinheiro deixasse de entrar com facilidade para que a Venezuela deixasse de financiar escola de samba no carnaval do Rio de Janeiro e passasse a dar calote nos produtores de carne e em outros exportadores brasileiros.
Existe, é claro, uma distância fenomenal entre a democracia brasileira e o regime populista implantado por Hugo Chávez. Mas é lógico que as dificuldades por que passa a Venezuela devem servir, no mínimo, de alerta agora que o Brasil caminha para se tornar um grande produtor de óleo.
Essa é uma das razões que torna ainda mais séria a discussão em torno da distribuição dos royalties do petróleo, que, tudo indica, será decidida pelo Supremo Tribunal Federal. O dinheiro do petróleo não pode ser apenas gasto, como fez a Venezuela.
Ele deve, como já se tornou comum dizer, ser investido em atividades que deem retorno. E que, por mais incrível que possa parecer, tornem o país menos dependente do dinheiro do petróleo.
Fonte: Brasil Econômico, 17/12/2012
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