Para professora da Universidade Central da Venezuela, eleições expõem desgaste de 14 anos de governo
Eleitores descontentes com continuidade devem influenciar novo mandato, diz Elsa Cardozo, professora da Universidade Central da Venezuela.
O GLOBO: O chavismo esperava uma vitória folgada do nas urnas. O que deu errado?
Elsa Cardozo: O chavismo alcançou seu limite. É uma tendência de desgaste do governo, 14 anos de mandato não passam imunes. E o desgaste se dá não só nas instâncias do governo como no próprio movimento, que ficou mais centrado na figura de Chávez do que numa proposta pragmática para o país. A candidatura de Maduro ofereceu poucas novidades. Insistiu numa continuidade quando suas políticas pareciam já não ter o resultado desejado em temas importantes como inflação, segurança e abastecimento. Faltou a Maduro definir suas propostas, sem medo de mudanças. Ele se excedeu na figura de Chávez e mostrou pouco dele mesmo. Exagerou com denúncias contraditórias em tão pouco tempo. Há indicadores, ainda, de um forte desgaste relacionado à situação econômica do país. A diferença mínima nos votos escancara um desafio enorme para o chavismo.
É um reflexo de mudanças na população?
Elsa Cardozo: O mapa político venezuelano já vinha mudando. Lentamente, mas vinha. Isso se viu nas eleições de outubro, quando o oficialismo se surpreendeu com os 6 milhões de votos recebidos pela oposição. E agora, sem Chávez, essa tendência se acelerou. Os resultados podem mostrar uma sociedade polarizada, é verdade. Mas há outra mensagem, a de que metade do país não compartilha a ideia de uma população dividida entre amigos e inimigos da pátria, como pregava Maduro. É um dado importante, que deve ser pesado pelo novo governo.
A oposição acertou ao pedir a recontagem?
Elsa Cardozo: Não convinha a Capriles deixar passar o momento. Se a oposição afirmou com segurança que possui dados diferentes, ele não podia fazer como na eleição passada, quando reconheceu rapidamente sua derrota. A oposição agiu dentro da lei, com uma solicitação formal.
A confirmação de uma vitória apertada de Maduro poderia gerar problemas de legitimidade em seu governo?
Elsa Cardozo: Ele não se opôs à recontagem. E nem deveria, porque não aceitá-la seria demonstrar temor do que poderia acontecer. Mas, se a recontagem confirmar a vitória acirrada, Maduro deverá levar em conta que metade do país não concorda com a continuidade das políticas do chavismo. E isso terá de influenciar o estilo de seu mandato, inclusive para o benefício de sua liderança. Senão, viverá todo um governo com protestos.
Fonte: O Globo
Aqui também o Lulo petismo já percebe um grande desgaste e caminha para uma derrota eleitoral!