Se o cenário doméstico parece ter se acalmado, com um início de governo sem grandes mudanças, o mesmo ainda não pode ser dito sobre a conjuntura internacional. Em que pese a melhora relativa de alguns países, notadamente os EUA, a Europa continua sendo um risco cada vez mais presente. Esse risco decorre essencialmente de uma falta de solução definitiva para os países do sul europeu.
Há uma esperança de que o ajuste que tem sido feito, passando por severo ajuste fiscal e reformas privatizantes, seja suficiente para melhorar a competitividade desses países.
De fato, no curto prazo esse é o caminho seguro para manter a estabilidade do euro.
Entretanto, o problema de um severo ajuste fiscal é que ele não consegue ser mantido por um longo período de tempo e isso seria necessário para conseguir estabilizar o elevado nível de endividamento público desses países.
A Grécia tem feito ajustes pesados, com cortes profundos de gastos e salários, mas a reação da população contra a duração dessas revisões tem aumentado.
Implicitamente, essa solução de curto prazo deveria existir apenas para dar tempo de estruturar a verdadeira solução de longo prazo, que seria a criação de uma entidade fiscal supranacional, assim como tem o BCE para cuidar da política monetária.
Foi por falta de uma coordenação fiscal que houve dificuldade de realocação de gastos públicos dentro da Europa. Essa solução é muito difícil de ocorrer, mesmo no longo prazo, porque significaria os países perderem sua soberania fiscal.
Vale dizer que os parlamentos de cada país não teriam mais um orçamento para discutir, servindo apenas como legislador.
Talvez países menores como a Grécia até abdicassem de sua política fiscal, mas difícil imaginar a Alemanha ou a França fazendo o mesmo.
Se essa solução não funcionar, o que parece ser provável, os caminhos do euro se tornam mais lúgubres. Duas opções saltam aos olhos.
Primeiro, o euro teria que depreciar fortemente para solucionar o problema de competitividade. Isso aumentaria as exportações do sul europeu, permitindo que o crescimento econômico que surgisse daí ajudasse a diminuir o endividamento.
Mas uma depreciação forte em países com o crescimento em aceleração, como a Alemanha, levaria a uma pressão inflacionária que, sabe-se, é o mal mais temido por aquele país.
Difícil ver os germânicos aceitando uma inflação de 5%, tendo que fazer um severo ajuste fiscal adicional, enquanto os outros países se recuperam. A que ponto os alemães estariam dispostos a ceder para ajudar seus aliados mais pobres?
Se não houver depreciação suficiente, o que também é provável, a Alemanha poderia pedir para sair do euro.
Esta ficaria entre os países em dificuldade que poderia aumentar suas exportações livremente. Mas isso também prejudicaria a Alemanha já que a própria Europa é seu maior parceiro comercial.
Como se vê, não há soluções fáceis, mas todas elas parecem exigir um sacrifício elevado da Alemanha. Até onde seu governo estará disposto a ir será a grande questão do ano.
Fonte: Brasil Econômico
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