Um apelido que o economista Edmar Bacha deu ao Brasil nos anos 1980 expôs com perfeição as diferenças entre o lado rico e o lado pobre do país. Todo mundo se lembra que Belíndia – o tal apelido – se referia a um lugar em que índices de desenvolvimento belgas conviviam com uma miséria de profundidade indiana. O tempo passou e o Brasil, que agora cresce a ponto de se firmar como potência mundial, se vê mais uma vez merecedor da velha alcunha.
De um lado, enfrenta desafios macroeconômicos de país rico. Do outro, vê os efeitos de catástrofes naturais agravados pelo uso irresponsável do solo – exatamente como se vê nos lugares mais pobres do mundo.
E, o que é pior, demonstra despreparo e falta de agilidade para enfrentar tragédias previsíveis. Por que não buscar nos dilemas de país rico a solução para os problemas de país pobre?
Alguns poderão dizer que a ideia é generosa, porém ingênua e inexequível. De qualquer modo, não custa apresentá-la. Um dos problemas mais agudos que o país tem enfrentado é o da entrada de moeda estrangeira em volumes caudalosos – e a prova mais evidente disso é o aumento exagerado das reservas cambiais.
Apenas neste ano, elas cresceram mais de US$ 1,5 bilhão – uma evolução superior a US$ 118 milhões por dia útil. (Boa parte do aumento se deu enquanto brasileiros morriam soterrados ou se viam ilhados sobre os tetos de seus carros colhidos por enchentes no meio de uma metrópole.)
O ingresso de recursos, como se sabe, causa problemas à medida que mantém o real valorizado e os esforços do governo para puxar o dólar para cima têm se mostrado ineficazes.
Já que o país não consegue, no curto prazo, conter a enchente de capital estrangeiro, por que não se valer dela para levantar o dinheiro necessário para reconstruir as áreas atingidas? Os recursos (que poderiam corresponder a, digamos, 5% de cada dólar que entrar no país) ficariam retidos por dez anos e, depois, devolvidos com os juros dos títulos do governo americano.
Assim, seria possível reconstruir as áreas devastadas em ritmo de país desenvolvido. Cinco anos depois de destruída pelo furação Katrina, a cidade americana de Nova Orleans já realizou muito do que precisava ser feito para se reerguer. Por que não tentar o mesmo por aqui?
Fonte: Brasil Econômico, 19/01/2011
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