Antes de tudo é salutar trabalhar para que a Selic caia no longo prazo. A taxa de dois dígitos que temos hoje não apenas não tem parâmetros de comparação com outros países, mas é um fator restritivo de crescimento maior da economia ao longo do tempo.
Entretanto, as condições estruturais que levam essa taxa a ser alta não podem ser confundidas com as operações de curto prazo da política monetária.
Subir ou diminuir a Selic depende da evolução da inflação que deveria ser o foco da política neste momento. Travestido de interesse em derrubar estruturalmente a taxa de juros, o Banco Central cometeu um de seus maiores deslizes na sua história recente. A queda de 0,5 ponto percentual não foi apenas precipitada, mas um indelével erro de decisão.
Razões para esse equívoco abundam. Primeiro, a demanda continua acelerada, o que é medido pelo mercado de trabalho com taxa de desemprego que deve continuar caindo ao longo do semestre e massa real de renda em aceleração.
Tanto o salário mínimo quanto os dissídios coletivos de diversos segmentos estão ai para comprovar esse dinamismo. E isso se reflete principalmente na parte de serviços do IPCA, que corresponde a 30% do índice total, e hoje se encontra perigosamente se aproximando dos dois dígitos.
Na verdade, diversos segmentos importantes dentro do índice como médico, serviços bancários e aluguéis já se encontram crescendo acima de 10% no acumulado em 12 meses.
Segundo, o risco internacional é apenas isso, um risco. O Banco Central tomou sua decisão antecipando uma possibilidade, ou seja, trabalhando com uma probabilidade referente à hipotética piora significativa do cenário internacional.
Em que pese a chance de um debacle maior do mundo desenvolvido, não é praxe bancos centrais anteciparem algo tão imponderável assim.
Mais ainda, a tendência ainda parece ser mais de uma recessão leve no máximo, e não uma repetição do evento Lehman Brothers de 2008.
Terceiro, os preços de commodities continuam elevados no que tange ao cenário agrícola. Os fundamentos do lado da demanda (China) e da oferta (clima) têm se mantido fortes e devem assim permanecer pelos próximos meses.
Ou seja, não dá para contar com um desagravo desses preços para ajudar a inflação.
Aliás, vale lembrar que o BC está há quase um ano e meio esperando o Godot agrícola chegar, sem sinais do mesmo.
Por fim, o fiscal anunciado na LDO 2012 implica mais gastos. A ideia de que um superávit primário maior possa ser suficiente é errada. Ela pode vir apenas de um crescimento mais acelerado de receita, como tem sido este ano.
Ou seja, os gastos públicos dificilmente podem ser vistos como restritivos à demanda ano que vem. Mais uma peça pregada pela Fazenda para fazer crer em sua improvável “consolidação fiscal”.
Daqui partimos agora para mais duas quedas prováveis esse ano, e mais algumas ano que vem, chegando a Selic talvez a 10% no começo de 2012.
Isso garantirá um PIB de 4% ano que vem, mas também levará a inflação para próximo do teto da meta ao longo de todo o governo Dilma.
Fonte: Brasil Econômico, 05/09/2011
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