A dobradinha Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, a zaga peemedebista que desde esta semana comanda o Congresso Nacional, já produziu seu primeiro resultado prático.
A votação do Orçamento, que deveria ter ocorrido antes do último Réveillon e havia sido prometida para ontem, acabou ficando para depois do Carnaval.
A justificativa para empurrar um pouco mais para frente o que já deveria ter sido votado há muito tempo foi a da inexistência de acordo entre os partidos – fato que poderia pôr em risco o texto de interesse da presidente Dilma Rousseff.
Isso, convenhamos, é conversa fiada: o Orçamento já está no Congresso há tempo demais para não haver entendimento em torno dele. E o grau de interesse dos parlamentares pelo documento, sejamos sinceros, começa e termina nas emendas que eles conseguem incluir no pacote.
No essencial, não existem problemas nos pontos que são, de fato, importantes.
O que justificou mais esse adiamento não foi, portanto, a falta de acordo – mas a falta de compromisso. Todo mundo sabe que, cumprida a obrigação de eleger as mesas diretoras das duas casas, senadores e deputados se mandaram de Brasília para só voltar ao batente depois da folia.
E, no calendário parlamentar brasileiro, “depois do Carnaval” não significa a Quarta-feira de Cinzas, dia 13 de fevereiro, como para os demais cidadãos brasileiros. A data que conta é a terça-feira seguinte, dia 19.
Antes disso, nem pensar. Com o plenário entregue às moscas, não tinha como haver votação ainda que, para esse problema, o novo presidente da Câmara já tivesse apresentado uma solução.
Já no seu discurso de posse, na tarde de segunda-feira, Henrique Eduardo Alves assegurou que proibirá a exibição pela TV Câmara de imagens do plenário vazio. Isso, segundo ele, passa para a sociedade a impressão (falsa, segundo ele) de que os deputados não trabalham.
Colocá-los para funcionar, que seria bom, ele não conseguiu. E a prova disso é mais essa postergação da votação do Orçamento.
Na verdade, na verdade, o problema é de outra natureza: não era para haver votação ontem. Faz parte do modelo de atuação de políticos com o perfil de Calheiros e Alves adiar o máximo possível as votações importantes – pois o clima de desespero que conseguem criar dá a eles vantagens na hora de barganhar com o governo.
Adiar uma decisão até o ponto em que não é mais possível deixar de tomá-la é parte da estratégia de arrancar mais favores do Executivo. Erram, portanto, os analistas políticos que insistem em dizer que, com a eleição dos dois, o PMDB multiplica seu poder junto ao Planalto.
Errado. Com parlamentares como os que o Brasil tem, o que determina a existência ou não de tensão no Legislativo é a capacidade e a intenção do governo de distribuir favores. Enquanto o toma lá dá cá funcionar, não haverá tensão.
Fonte: Brasil Econômico, 06/02/2013
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