De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), organização voltada ao estudo do sistema privado de saúde brasileiro, 2012 foi o ano em que o setor menos cresceu, desde 2009. No fim do ano passado, os planos de saúde privados totalizavam uma massa de 47,9 milhões de usuários. Número 2,1% superior ao final de 2011. Por outro lado, a sinistralidade de 85% foi a maior dos últimos 12 anos.
Não são números bons e isso pode ser constatado na leitura dos balanços de várias operadoras. Se o faturamento delas causa inveja, o lucro na última linha não desperta muita emoção. Isso quer dizer que o sistema caminha para uma crise? Em princípio, não. Mas é hora de se tomar cuidado porque não há razão para 2013 apresentar um desempenho muito diferente. Pelo contrário, se houver mudança, deve ser para pior.
Uma operadora de plano de saúde privado tem uma fonte básica de faturamento e quatro grandes dutos por onde seus recursos escoam, a saber, os procedimentos cobertos, as despesas comerciais e administrativas e a carga tributária.
O faturamento equivale sempre a 100%. Como os procedimentos cobertos atingiram 85%, o resultado da conta é um saldo de 15%. É com ele que a operadora deve pagar as despesas administrativas e comerciais e, eventualmente, os impostos. Atualmente uma empresa com despesa administrativa de 15% pode ser considerada bem administrada. Assim, somando os procedimentos cobertos com a despesa administrativa e subtraindo do faturamento, a conta fecha em zero. E ainda ficam faltando as despesas comerciais e os impostos.
As operadoras têm uma receita marginal importante, representada pelo resultado da aplicação do faturamento no mercado financeiro. Quando os juros estavam na casa dos 15% ao ano estes recursos cobriam as despesas faltantes e ainda permitiam que a empresa apresentasse lucro. O problema é que os juros estão bem mais baixos e a inflação está alta, o que compromete o resultado real desta fonte de receita.
Não há mágica debaixo do sol. O crescimento menor é resultante da queda da demanda pelos planos de saúde privados, não porque a maioria dos brasileiros não anseie por eles, mas porque as pessoas que, com a mudança de condição social, podiam adquiri-los já o fizeram, nos anos anteriores, quando ingressaram na chamada classe média.
Em 2012 a mobilidade social não foi tão expressiva. Além disso, a economia formal, que é quem oferece planos de saúde privados para seus colaboradores, apresentou crescimento medíocre. Os números divulgados pelo IESS não deixam dúvida: menos de um quarto da população brasileira é atendida pelos planos de saúde privados. A imensa maioria depende do SUS, que não tem recursos suficientes para fazer frente às suas necessidades, o que explica a situação lamentável em que se encontra.
Não se fala mais em crescimento significativo para 2013. De outro lado, é certeza que a inflação ficará muito próxima do teto. Para completar o quadro, as notícias sobre a perda de competitividade do Brasil são consistentes e apontam para um cenário onde as importações devem continuar se expandindo, com os produtos estrangeiros levando vantagem em relação aos produtos nacionais, comprometendo os investimentos e a geração de empregos, cuja remuneração engloba os planos de saúde privados.
Mas há outra perversidade. Se de um lado a inflação mais alta serve para reajustar os preços dos planos acima dela, as despesas com saúde têm subido em patamares bem mais elevados do que a inflação, criando um descompasso entre receita e despesa e um eventual problema de caixa, já que as saídas são maiores do que as entradas.
A maioria das operadoras mais importantes não está em crise, mas organizações menos capitalizadas estão abrindo o bico e adiando atendimentos inadiáveis. A tendência é a prática se acentuar, com prejuízos evidentes para o sistema, mas, acima de tudo, para o segurado, que paga e na hora que precisa não recebe.
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