Em meio a dores, luto e pânico instalados na região montanhosa do Estado do Rio, onde se localizam cidades merecidamente afamadas por seu clima ameno, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, grande jornal de São Paulo, na primeira página, em sua edição do dia 15, publicou notícia circunstanciada revelando que “o governo do Rio de Janeiro sabia desde 2008 dos riscos na região da tragédia” e aludia exatamente às três cidades mencionadas como as mais sujeitas aos flagelos naturais, como os acontecimentos recentes haveriam de confirmar.
No dia seguinte, domingo, outro importante jornal, também paulista, igualmente em sua primeira página, dizia ter tido acesso à comunicação oficial da Secretaria Nacional de Defesa Civil à ONU, reconhecendo o aumento de ocorrências de desastres, confirmando a possibilidade de flagelo ocorrer e informando que “grande parte do sistema de defesa civil do país está despreparado para enfrentar calamidades como a que atingiu a região serrana do Rio”.
Em razão do tsunami que atingiu regiões da Ásia e do aumento do número de desastres naturais, em 2005, 168 governos, sob o patrocínio da ONU, firmaram convenção com a finalidade de promover a redução do risco imanente a esses sucessos; o plano deveria ser implantado até 2015, obrigando-se os governos signatários, e o Brasil era um deles, a cada dois anos apresentar um raio X da sua real situação.
As conclusões apresentadas pelo Brasil foram alarmantes, pois na versão endereçada ao escritório de Estratégia Internacional da ONU para a Redução de Desastres, nada fora feito de 2005 a 2010. Estes os fatos.
Enfim, os fatos vieram a confirmar as previsões da tragédia bem como o despreparo do país para enfrentar a emergência. Mas este dado chama a atenção de outro, a concomitância de ambos com a dupla presidência do então presidente Luiz Inácio.
A simultaneidade entre os dois fatos, a orgia publicitária do governo passado em cerca de R$ 10 bilhões em oito anos, R$ 1,1 bilhão até a primeira semana de dezembro último, coisa de R$ 3 milhões por dia, mais o apojo de R$ 20 milhões, mediante 325 veículos de comunicação, para louvar as benemerências do então governante, e ao mesmo tempo sem tomar uma só providência no sentido de atenuar os efeitos brutais dos desvarios naturais na serra fluminense, força-me ao dissabor de dizer que um governo assim jamais poderia ser o maior e melhor de todos os governos em todos os tempos. Pode lembrar um estelionato publicitário, mas nunca um padrão exemplar de governo.
Fonte: Zero Hora, 24/01/2011
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