O tunel sob a mancha do governo brasileiro: O trem-bala, um desastre previsível
Por Paulo Roberto Almeida
Assisti, de perto, e de longe, a todas as etapas da construção do Tunel sob a Mancha, o Chunnel, ou seja, a via rodo-ferroviária expressa entre o norte da França e o sul da Inglaterra, planejada desde décadas, programada nos anos 1970, e finalmente construída nos anos 1980 e começando a operar nos anos 1990.
Conheci, e apreciei (hummm) os intermináveis debates entre “tunnelistas” e “ferryistas”, entre arquitetos e engenheiros, entre financistas e políticos, entre planejadores e sonhadores, e desde as etapas iniciais tinha as minhas dúvidas quanto à viabilidade, não técnica, mas econômico-financeira de todo o projeto.
Mas, enfim, como parece que aquele trecho de mar vive encapelado, como as pessoas enjoam nos ferrys (bem vagabundinhos, alguns, melhores e mais rápidos, e mais caros, outros), como o tráfego parecia justificar, eu disse: On y va! Ça y est! Partons!
Os engenheiros prometiam maravilhas, como de fato foi. Os financistas, prometiam um retorno rápido. Uau! Muita gente se precipitou sobre os bonds.
Quando acompanhava a construção do túnel e lia as matérias no “Le Monde”, no “Financial Times” e demais jornais econômicos europeus, logo percebi a tremenda bobagem que os investidores estavam fazendo.
Sim, claro, como para o primeiro frustrado canal do Panamá, sob Ferdinand de Lesseps, como o canal de Suez, e como outros projetos grandiosos saídos dos sonhos de alguns lunáticos políticos, eu logo percebi o que seria o Chunnel: iriam atrair milhares de pequenos investidores individuais e familiares, sob promessas mirabolantes e nada de retorno, durante algum tempo. Ou jamais, como descobriram os investidores do primeiro canal do Panamá, e depois os de Suez. Ganharam os financistas, muito depois, mas não os portadores de títulos.
Meu diagnóstico na época (e eu disse isso a franceses, que não gostaram), foi o seguinte: “Uma brilhante conquista tecnológica, um tremendo desastre financeiro!”
Também previ que nem os filhos dos investidores reais do Chunnel viriam qualquer cor de dinheiro antes de algum tempo. Talvez os netos ou bisnetos. Bem, gostaria de saber quanto ganharam, até agora, os primeiros investidores. Duvido que tenha valido a pena, e isso com um túnel que todos os dias movimenta não sei quantos TGVs e centenas, talvez milhares de carros e caminhões. Atravessei de carro e de trem: achei uma maravilha, mas eu nunca colocaria meu dinheiro num treco daqueles. Como tampouco colocaria, e não coloquei, dinheiro no bolso de capitalistas promíscuos como certo Mister X, que se locupletou do dinheiro do governo e de alguns financistas amigos que achavam que se o governo estava colocando dinheiro não podia dar errado. Deu!
Pois bem. Parece que o governo atual está construindo o seu túnel sob a Mancha: nem tenho certeza de que o trem bala será um belo sucesso tecnológico, pois existem dezenas de trens rápidos por aí, a tecnologia é mais ou menos dominada. Vai haver, não tenham dúvida, muitos aumentos de custos e muita, mas muita corrupção, e acho que não terá público para pagar o investimento, pois já existe ônibus, carro e avião no trajeto, e pode até haver um trem normal, que talvez se pagasse a si mesmo.
Teimosia, burrice, corrupção programada? Pode ser tudo isso junto.
Vamos embarcar no nosso novo desastre financeiro?
Fonte: Blog “Diplomatizzando”
Bom dia, caro Paulo Roberto! Antes da decisão final s/a construção do Eurotunel, alguma revista inglesa publicou uma charge com a Thatcher segurando um binóculo do qual saia um túnel ligando França e Inglaterra, acompanhado da frase: “o buraco negro que deixará a Inglaterra no vermelho”
As perdas foram irrecuperáveis para centenas de invFoi com um acordo, assinado há exactamente 20 anos em Cantuária, entre o presidente francês François Miterrand e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, que nasceu o projecto Eurotunnel. A ideia de cavar um túnel no Canal da Mancha vinha de há séculos atrás.
Os problemas começaram aí, ao decidir-se um financiamento sobretudo privado. Foram muitos os accionistas a perder dinheiro. Uma accionista, que perdeu cerca de 80.000 euros, diz que “está furiosa, pois contava com o dinheiro para a velhice”.
Euronews 3013