Há muitas explicações para o inexplicável. Parece que é sempre assim. A perplexidade suscita esforços explicativos de muitas origens e em várias direções. Em geral, nada satisfatórios. E o inexplicável da hora no terreno da economia é a retração dos investimentos e, consequentemente, os baixos níveis de crescimento econômico – aqui e lá fora.
Nos Estados Unidos, o governo abre mão das exigências de políticas monetária e fiscal ascéticas para aderir, há pelo menos quatro anos, a uma espécie de esbórnia que não muito tempo atrás seria considerada coisa de republiqueta desgovernada e descontrolada. Começou, em 2008, despejando quatrilhões de dólares nos bolsos de banqueiros escolhidos a dedo para, alegadamente, evitar uma crise sistêmica no setor de crédito imobiliário, quando da crise dos títulos subprime. Evitou, sim, que a falência do Lehman Brothers se disseminasse de maneira trágica, mas deixou um legado de liquidez monetária que até Dilma Rousseff chegou a perceber e lamentar, quando criticou o tsunami de dólares que invadiu o Brasil – coisa que em tempos mais racionais seria muito bem-vinda.
Era suposto, então, que semelhante política não só aliviasse a situação dos bancos montados em créditos podres, como reanimasse a economia americana, que enfrentava uma situação de vazante recessiva, isto é, falta de investimentos, aumento do desemprego e queda no consumo.
Como se viu, pouco adiantou, pois quatro anos depois temos situação semelhante no andar da carruagem econômica de Tio Sam, e resposta semelhante do governo americano. Só que, agora, os bilhões de dólares não irão para os bolsos de banqueiros, mas serão despejados em prestações de US$ 40 bilhões até US$ 80 bilhões mensais, e, no dizer de críticos gozadores, “de helicóptero”. Haverá uma aspersão de dinheiro por todas as mangueiras disponíveis sobre o público em geral. É como se Silvio Santos ou Chacrinha tivessem se apossado do caixa do governo ianque gritando “quem quer dinheiro aí?!”. No tempo da inflação galopante no Brasil, os reajustes mensais de salários, rendimentos e aluguéis produziram efeito semelhante, muito frenesi de consumir antes que o dinheiro sumisse.
Mas isso anima os investidores e resulta em mais empresas, mais fábricas, mais empregos duráveis, mais segurança para o futuro?
O que se pode dizer é que não houve esse resultado no Brasil e não deverá haver nos Estados Unidos.
Mas, o governo americano, sem poder se endividar mais, por já deter um passivo astronômico, e sem poder aumentar impostos, particularmente em período eleitoral, sem ter com o que investir, lança mão, então, da derrama monetária, na esperança de que esse estímulo ao consumismo acenda no empresariado o “espírito animal” que o levaria a investir.
Essa moda de fabricar crescimento econômico com dinheiro solto, que no Brasil teve em JK um ardoroso aficionado, está agora ganhando o mundo rico e países tradicionalmente hígidos no terreno das finanças públicas, pois o Japão também parece ter-se decidido a seguir o exemplo americano.
E, por um outro tipo de argumentação, é o que se insiste que a Alemanha aprove, e que se faça na Europa, para salvar o euro e os governos dos países menos cuidadosos com seus cofres no curto e no longo prazos, Grécia, Espanha e Itália.
Toda essa gincana de facilitário monetário e financeiro deverá, supostamente, fazer com que a economia dos países ricos retome algum vigor e deixe o marasmo em que navega há bom tempo.
Todavia, essa disposição dos governos em dinamizar as economias até agora não resultou em melhoria da velocidade de crescimento dos maiores PIBs.
No Brasil, onde essa política vem sendo aplicada desde o começo do primeiro governo Lula, também não se nota muito entusiasmo da parte dos investidores privados. Levando em conta os passos de sete léguas que o comércio vem dando, no País inteiro, a indústria nacional e estrangeira aqui dentro já deveria estar investindo adoidado. O que não é o caso. Meses e meses de reduções de impostos, de reajustes salariais polpudos e de exortações tipo “pra frente Brasil” não arrancam os investidores privados do recanto da timidez, contrariamente ao que seria de esperar. Sim, está havendo aumento do emprego e algum crescimento econômico. Mas não parece um processo seguro e confiável.
E é nisso, ao que tudo indica, que reside uma das explicações para a inexplicável fraqueza dos investimentos, particularmente do setor privado, aqui, no Brasil, e lá fora.
O processo de puxar o crescimento e o investimento pela corda do consumismo dá resultados a curto prazo, mas não infunde a confiança e a segurança que exigem os grandes investimentos de médio e de longo prazos de maturação. O empresário esperto aproveita a onda para investir em comida, artigos de consumo, aparelhos eletrônicos que importa em quantidade, em roupas da moda. Mas é difícil que pense em indústrias pesadas, químicas, petroquímicas, de matérias-primas, de bens de capital, quando sabe que o governo só tem políticas para o curto prazo. Resta ao governo investir, com a lentidão, a inépcia e a roubalheira que o caracteriza. Vai demorar, portanto, para termos o tal de Brasil Maior.
Fonte: O Estado de S, Paulo, 24/09/2012
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