A repórter Regiane de Oliveira quantifica o tamanho do problema da falta de mão de obra capacitada no país. Há cerca de 65 milhões de brasileiros com mais de 15 anos de idade que ainda não concluíram os primeiros quatro anos do ensino básico.
Os programas governamentais para educar jovens e adultos dispõem de 11 milhões de vagas. Se, improvavelmente, todos esses 65 milhões de analfabetos funcionais decidissem voltar à escola, seriam necessários seis anos para poder matriculá-los. Isso apenas para fazer com que aprendessem a ler, escrever e fazer cálculos simples.
Se nossos industriais se queixam de que a taxa cambial e a alta carga tributária colaboram para que o Brasil exporte empregos para outros países, a falta de instrução de nossos trabalhadores leva um número cada vez maior de empresas a importar empregados.
Crescem as vagas, diminuem os candidatos brasileiros capazes de preenchê-las, um empecilho ao crescimento econômico-social cuja gravidade tem sido discutida superficialmente.
Essa limitação não prejudica apenas os trabalhadores. Segundo a Fundação Getulio Vargas, a chance de uma pessoa conseguir emprego é 48,2% maior entre os letrados do que entre os sem formação profissional concluída. Menos trabalho, menos renda, menos consumidores.
Em algum momento, a conta será cobrada sem indulgência pelas chamadas forças do mercado.
O descaso com a educação atravessa décadas no Brasil. Governos democráticos ainda não conseguiram melhorar a herança alienante dos bancos escolares atribuída aos militares.
Ironicamente, o parlamentar mais votado nas últimas eleições foi acusado de não saber ler nem escrever e sofreu constrangimento público por estar nessa condição.
Em vez de restringir a representação política de quem não consegue somar dois mais dois, é mais justo e produtivo aumentar as oportunidades para que aprenda.
Fonte: Brasil Econômico, 10/02/2011
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