Nas últimas semanas, o câmbio sofreu forte depreciação. Diversas outras economias, especialmente as dependentes da exportação de commodities, também foram afetadas.
Dois fenômenos aparentemente contribuíram para produzir esse movimento. Primeiro, a acomodação do crescimento da economia chinesa em valores mais próximos de 7% ao ano tem produzido uma queda continuada dos preços das commodities.
Desde o início de fevereiro até a primeira quinzena de maio, o índice de preços de commodities calculado pelo Commodity Research Bureau (CRB) de Chicago perdeu 3,5%. A moeda dos países que dependem da exportação de bens primários se desvaloriza em consequência do movimento dos preços dos bens primários.
Mais importante foi o segundo fenômeno, que produziu o ajuste das moedas de diversas economias, inclusive do real. Ao longo deste primeiro semestre, duas boas notícias sugeriram aos investidores que a economia americana se recuperaria mais rápido do que estava inicialmente implícito na trajetória das taxas de juros no mercado americano vigentes até o início de maio.
A primeira boa notícia foi que o setor público americano produziu no primeiro trimestre, em comparação ao primeiro trimestre de 2012, um ajuste em suas contas de dois pontos percentuais do PIB.
O déficit nominal, que fora de 8,7% do PIB no primeiro trimestre de 2012, reduziu-se para 6,7% do PIB no primeiro trimestre de 2013.
Dado que outra parcela do ajuste das contas públicas ocorreria no segundo trimestre, quando a maior parte da queda automática dos gastos com início a partir de março atingiria as contas públicas, os números sugerem que o setor público poderá reduzir seu déficit em 2013 em quase três pontos percentuais do PIB.
A segunda boa notícia com relação ao desempenho da economia americana foi que, além de ter crescido 2,4% no primeiro trimestre ante o trimestre anterior (na taxa anualizada), o acompanhamento das diversas estatísticas indicam que no segundo trimestre o produto crescerá ante o primeiro trimestre por volta de 1,8% na taxa anualizada.
Ou seja, no semestre em que a economia enfrenta ajuste fiscal na casa de 2 a 3 pontos percentuais do PIB, o produto crescerá 2% e a economia continuará gerando empregos suficientes para que a taxa de desemprego não cresça.
Para termos ideia do vigor da economia americana, basta lembrar que as economias europeias têm apresentado desempenho muito pior, muitas vezes com crescimento negativo, e melhoras irrisórias nas contas públicas.
As boas notícias fizeram com que o mercado trouxesse para mais perto, e de forma mais alinhada com o roteiro estabelecido pelo Federal Reserve (o BC americano), o momento de normalização da política monetária americana.
Os juros anuais pagos pelas notas do Tesouro americano de dez anos subiram de 1,6% para 2,2%. Esse movimento foi suficiente para produzir saída de capitais dos emergentes em direção à economia americana.
Por aqui o câmbio desvalorizou-se quase 6%. Em uma economia com a inflação batendo no teto da meta e crescendo a passos de cágado, o estrago foi grande.
O cenário básico da condução da política econômica até então era de “empurrar com a barriga” até a eleição. Minha avaliação era que a tentativa de implantação da “nova matriz econômica” já havia sido abandonada, ou estava suspensa até a eleição, em função dos impactos inflacionários que a desvalorização do câmbio de meados de 2011 até meados de 2012 provocara.
O governo controlaria a inflação com medidas tópicas e promoveria um ajuste pequeno na taxa Selic com vistas a acalmar as expectativas inflacionárias. O ajuste maior ficaria para 2015.
O movimento da economia americana adiantou o momento do ajustamento. Evidentemente, temperado pelo calendário eleitoral, podemos esperar uma pequena mas relevante melhora na política fiscal, retorno a um câmbio mais flutuante com a retirada das barreiras à mobilidade de capital, que já ocorreu, e possivelmente um ciclo ligeiramente maior de elevação da Selic. Evidentemente sobrará muito ajustamento para 2015.
Fonte: Folha de S. Paulo, 16/06/2013
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