Professor de Filosofia e Ética Política na Unicamp, Roberto Romano acredita que o povo brasileiro ainda está aprendendo a viver em grandes sociedades urbanas. Enquanto isso não ocorre, segundo ele, persiste a falta de respeito com o patrimônio público e os demais cidadãos. Confira a entrevista concedida ontem, desde São Paulo, por telefone:
Zero Hora – Falta civilidade ao brasileiro?
Roberto Romano – Como em todas as relações sociais, há um movimento de imitação. Quando você tem um sistema político onde o recurso público é usado para fins privados, você tem uma sociedade onde o que é público não merece respeito. Pode estragar, quebrar. Nossa sociedade não tem o costume de respeitar o que é público e elege governantes que também não respeitam. É um espelhamento.
ZH – O cidadão não se sente responsável pelo espaço que é público?
Romano – Exatamente, é algo que não é assunto dele. É território de caça, de aventura. Não existe norma pública que seja respeitada, e o maior exemplo disso é o trânsito. Na faculdade de Sociologia, no primeiro ano aprendemos que existe uma coisa chamada expectativa de reciprocidade de comportamento. Se você entra numa rua, você espera que o outro venha pela mão dele. Mas isso não é visto em sua plenitude aqui no Brasil.
ZH – Essa falta de civilidade vem aumentando ou está diminuindo?
Romano – O fato é que ainda vivemos o rescaldo da urbanização no brasil. Nós tínhamos a cultura rural, ou de pequenas cidades, onde todos se conheciam e as relações eram mais pessoais. Havia relação de autoridade com os fazendeiros, com o padre, o juiz. Desde os anos 50, o Brasil entrou em uma onda rapidíssima de urbanização.
ZH – O senhor quer dizer que ainda não aprendemos a viver em cidades?
Romano – Exatamente. Saímos do sertão e não nos adaptamos ainda ao ritmo das grandes urbes. Somos manadas de pessoas que não têm padrões de comportamento coletivo. Na Europa, as cidades têm 2 mil anos. Os EUA também tiveram uma urbanização rápida, mas a nossa foi mais tardia. Tem pessoas que ocupam determinados status sociais, mas não sabem o que fazer com ele. Temos uma classe média violenta, que só conhece o poder do dinheiro ou da força física. Se tem um salário razoável, um carro importado, o resto não existe.
ZH – O senhor acredita ser possível um avanço em curto prazo?
Romano – Não. É um processo civilizatório, e ainda estamos vivendo as dores do parto de uma sociedade urbana. Vamos sentir essas dores enquanto não conseguirmos criar padrões de comportamento de massa civilizados.
Fonte: Zero Hora
Gosto muito do Roberto Romano, mas discordo totalmente. O ponto não é esse. A questão não tem nada a ver com urbanismo. A questão tem a ver com estatismo. A visão que se tem do Estado é que determina o comportamento das pessoas no espaço público. Como é possível que as pessoas possam respeitar as regras de convívio social se o próprio Estado não as respeita e ainda debocha dos cidadãos? Para separar uma ética privada da ética do estado é preciso uma maturidade intelectual que nem as nossas universidades fornecem. Tanto é verdade que as pessoas que mais ignoram o degringolar ético são as que estão inseridas nas relações criadas no capitalismo avançado. Quem está no semicapitalismo dos cartórios, do faz-de-conta estatal, estes são os vertedouros das transgressões, sequenciados pelo subcapitalismo da baixa renda, hoje em aliança em métodos, políticas e aspirações. Não há civilidade possível em uma sociedade constituída por 3 sistemas sociais diferentes.
Sempre sóbrias as entrevistas do Prof. Roberto. pena que esta tenha sido muito curta. Concordo sobre sua posição sobre a classe média. Indo além do que ele disse, creio que enquanto nossa classe média não deixar de ter o comportamento soberbo e exibir sua empáfia com bons empregos nossa sociedade não se civilizará a contento. A classe média representa ascensão pelo trabalho e esforço, que deve ser acompanhado por crescimento cultural. Sem a bagagem cultural e de idéias teremos apenas ex-pobres esnobes. Naturalmente não devemos esperar nada da elite eeconômica, encastelada em suas mansões. Dos pobres devemos desejar que a melhoria em suas economias se traduza em investimento educacional, sem ficar esperando tudo do governo.
Estou de acordo com alguns aspectos suscitados por ele da nossa total ausência de organização social.
Educar é diferente de civilizar.
Como harmonizar uma sociedade tão estratificada social e economicamente?
Como posso exigir essa postura polida de alguém que sequer foi instruído,melhor, que vive em função do básico: sobrevivência!!!
Como pedir para um sobrevivente brasileiro civilidade, se nem ao menos ele tem segurança alimentar?
Pedir para um moleque cuja infância foi cassada para agir me conformidade com as leis vingentes, é ao mesmo q pedir para os EUA permitir entrada de todos os imigrantes ilegais no seu território.
Minha visão não é economicista. Confessos q carecemos de conhecimentos no que se refere a tratos sociais,porém estamos engatiando em muitas searas desse país prosituído!