O Banco Central inicia novo ciclo de alta de juros, tentando evitar que disparem as expectativas de inflação. As despesas do governo cresceram demais, e agora é preciso desacelerar o ritmo do consumo e dos investimentos privados. A taxa de câmbio afunda novamente, desestimulando exportações e também a produção nacional de bens e serviços substitutos às importações. E, para piorar, em plena guerra mundial por empregos, persistem excessivos encargos sociais e trabalhistas sobre as folhas de pagamento das empresas. São como armas de destruição em massa apontadas contra os trabalhadores brasileiros.
É sempre assim, quando começa a melhorar temos de frear. Somos prisioneiros dessa mecânica perversa, essa verdadeira armadilha social-democrata que limita nosso crescimento. A presidente Dilma Rousseff deu indicações de que pretende escapar desse labirinto quando anunciou o controle de gastos públicos como uma prioridade para 2011. A falta de um regime fiscal com bons fundamentos abala a credibilidade do governo e coloca sobre o Banco Central toda a responsabilidade pelo combate à inflação. E as lâminas afiadas dos juros altos e do câmbio baixo acabam decepando a produção e o emprego para garantir o cumprimento das metas de inflação.
Além disso, o Brasil tributa com selvageria a criação de vagas de trabalho. A social-democracia hegemônica, apesar da ênfase à inclusão social em seu discurso político, tem explorado apenas a rota das transferências de renda, desprezando a integração produtiva dos menos favorecidos aos mercados de trabalho. Sua agenda obsoleta não atende às exigências de uma economia mundial cada vez mais competitiva. O trabalhador brasileiro está completamente desprotegido para a contemporânea batalha por empregos.
O desinteresse do Congresso pela matéria é comovente. Mas atribui-se à nova presidente grande interesse no assunto, com estudos já bastante avançados para uma substancial redução dos encargos que encarecem o uso da mão de obra e impedem a criação de novos empregos. Esses dois insights de Dilma Rousseff — a maior dose de controle fiscal para aliviar o recurso exclusivo à política monetária no combate à inflação e a drástica redução dos encargos sociais e trabalhistas para garantir a criação de milhões de novos empregos — marcariam um rompimento auspicioso e inovador com as práticas do Antigo Regime.
Fonte: O Globo, 24/01/2011
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