O Brasil tem passado pelo seu segundo ciclo de expansão da classe média. O primeiro, ocorrido nas décadas de 1950 a 1970, surgiu no esteio do desenvolvimento industrial. As grandes indústrias incentivadas por Getúlio e Juscelino foram base importante de surgimento dessa classe média.
Esse processo se estendeu até a década de 1970, com os incentivos adicionais aos grandes grupos industriais dados pelo governo Geisel. A classe média dessa época eram os peões de fábrica das indústrias de automóvel, de construção e de energia, dentre outras.
Como todo país emergente, a fase inicial de desenvolvimento da classe média se deu quase exclusivamente pelo desenvolvimento da indústria em detrimento de uma classe rural que diminuía.
O passo seguinte nessa evolução natural de um país emergente seria desenvolver os serviços. Foi assim nos EUA, hoje não mais um país industrial, mas eminentemente de serviços. Assim está sendo com a China, que cada vez mais olha esse setor como o segmento que dominará a economia no futuro.
O caso brasileiro deveria ter seguido esse desenvolvimento, mas foi atropelado pelas duas décadas perdidas, na verdade uma grande década de 1980 que se inicia em meados dos anos 1970 e termina com o início do Plano Real.
Desde então, o segundo ciclo de desenvolvimento recomeçou, dessa vez com investimentos necessários no setor de serviços, até porque já tínhamos perdido a condição de polo industrial do mundo, pelos próprios erros cometidos nas décadas anteriores.
Esse processo de alavancagem dos serviços tem ocorrido desde a década de 1990 e é a base do crescimento da classe média que vemos hoje e que ainda deve perdurar por toda essa década.
A classe média hoje não é mais representada pelo peão de fábrica, mas pelo gerente de banco, pelo agente imobiliário, professores e médicos. Essa grande massa de fornecedores de serviços é o que deve impulsionar a nova rodada de desenvolvimento da classe média.
E os números são superlativos. Dentro de dez anos devemos ter uma grande migração de pessoas dentro das classes de renda, com cerca de 44 milhões de pessoas aparecendo nas classes A, B e C, majoritariamente nesta última.
O potencial de demanda será enorme. Basta pensar que, hoje, cerca de 55% dos domicílios entre 2 e 5 salários mínimos não têm qualquer veículo. Exercícios simples mostram que apenas entre as faixas de 2 a 10 salários mínimos haveria uma demanda potencial de cerca de 1,5 milhão de automóveis por ano até 2020.
Isso além de todo o crescimento normal nas outras rendas e por troca de veículo. Da mesma forma, a base da demanda imobiliária também está dada, o que fará com que o crédito imobiliário ainda na faixa dos 4% do PIB consiga rapidamente alcançar até 15% do PIB no final desta década sem grandes dificuldades.
Nada é sem risco, entretanto. O que matou a expansão da classe média no passado foi a inflação. E é ela que também tem que ser controlada agora. Não teremos mais grandes processos inflacionários, mas urge o governo interromper o novo ciclo de aumento de preços antes que o custo para a sociedade piore.
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2011
No Comment! Be the first one.