Sob a pressão de uma carnificina sem fim, dois impérios – o austro-húngaro e o otomano – se dissolvem completamente, o kaiser alemão perde seu trono e o czar da Rússia e sua família inteira são executados. Mesmo os vitoriosos se tornam perdedores: a Inglaterra e a França contam mais de dois milhões de homens mortos e terminam a guerra com enormes dívidas. A magnitude da tragédia foi muito além do imaginável, em dimensões jamais experimentadas pelos europeus: mais de 35% dos alemães entre 19 e 22 anos e metade de todos os franceses entre 20 e 32 anos foram mortos na I Guerra Mundial, o grande choque que deveria trazer “O fim de todas as guerras” (2011), como relata Adam Hochschild.
A grande guerra foi uma monstruosa aberração cultural, o resultado de um incontrolável e imprudente impulso dos europeus de se tornarem uma sociedade guerreira. Podemos ver Clausewitz como o ideólogo desse cataclísmico episódio, diagnostica John Keegan, em “Uma história da guerra” (1994). Dois milhões de alemães não podem ter caído em vão. Nós não perdoaremos, nós exigimos vingança, fulminava Adolf Hitler menos de quatro anos após o fim da guerra. A derrota deflagrou uma sequência de eventos desastrosos sobre a Alemanha. As reparações de guerra e perdas territoriais pelo Tratado de Versalhes, uma hiperinflação, a violência política, os impactos da Grande Depressão e a ascensão dos nazistas.
O III Reich chegou ao poder em 1933 sobre as ruínas da República de Weimar, primeira e malsucedida tentativa de regime democrático na Alemanha. A guerra radicalizou a política, com revolucionários comunistas à esquerda e bandos armados como Os Capacetes de Aço e As Brigadas Livres à direita. A democracia alemã, improvisada na esteira da derrota militar, jamais teve a chance de se estabelecer sobre fundamentos estáveis, registra Richard Evans, em “O III Reich no poder” (2005), segunda obra de sua monumental trilogia.
Com o espírito de Bismarck, com Parsifal e Sigfried de Wagner, com a guerra total de Clausewitz, com o ressentimento por Versalhes, com o homem superior de Nietzsche e sob o comando do Führer, a Alemanha dominaria a Europa. Aqueles foram tempos terríveis. Com a morte das ideologias, para a supremacia econômica dos alemães teria bastado criar o euro.
Fonte: O Globo, 12/08/2013
Que coisa confusa, misturada e imprecisa! Para quê?
Na criação do euro, a França sentia muito medo de uma supremacia alemã advinda do poderoso banco alemão….Tinha razão..