Está acontecendo o que parecia impossível: o reerguimento da indústria automobilística americana! Considerado, há dois anos atrás, à beira da extinção, esse setor vinha padecendo, nas duas últimas décadas, de um processo de perda vertiginosa de participação nos mercados interno e externo, com os consequentes aumento da capacidade ociosa e saúde financeira cambaleante.
Essa perda de mercado resultou de vários fatores que conspiraram contra a competitividade de seus produtos, entre os quais destacam-se: estagnação gerencial, atraso tecnológico, motores com elevado consumo de combustível, veículos com qualidade insatisfatória e modelos de mau gosto. A recente crise econômica internacional precipitou a deterioração financeira dessas empresas, culminando com as concordatas, patrocinadas pelo governo, da General Motors e Chrysler e com a profunda reestruturação da Ford.
O amparo financeiro estatal ao setor não foi de mão beijada. Rígidas metas de reorganização gerencial e tecnológica foram estabelecidas. Por exemplo: a) definiram-se mudanças estruturais nos veículos, principalmente quanto ao consumo de combustível e padrão de qualidade; b) exigiram-se medidas visando redução dos custos de produção, inclusive a transferência a fundações, administradas pelos trabalhadores, dos gastos com assistência médica e aposentadoria dos empregados. Esses gastos adicionavam US$1.500 ao preço de cada veículo; c) os sindicatos concordaram em fazer concessões salariais e na quantidade de vagas de trabalho.
O governo também está incentivando o setor através de recursos para desenvolvimento tecnológico. O Ministério de Energia efetuou aportes às empresas no total de $ 2,4 bilhões, a serem direcionados à pesquisa e avanços no processo produtivo. Relevante parcela da opinião pública americana opôs-se à ajuda prestada ao setor, considerando-a conflitante com o sistema capitalista. Para essa corrente de pensamento, o correto seria deixar as empresas resolverem seus problemas por conta própria e, se for o caso, falirem, como punição pela incompetência.
Porém, para a surpresa geral, no segundo semestre de 2010 as três montadoras americanas já exibiam sinais evidentes de recuperação, que vêm se consolidando. Abandonando seu vício a motores devoradores de gasolina, optando por carros mais leves, aprimorando a qualidade e o estilo de seus veículos e incrementando a produtividade industrial, Detroit vem recuperando mercado e obtendo resultados lucrativos. Existe a expectativa de GM e Ford anunciarem agradáveis desempenhos financeiros para 2010. Chrysler continua apresentando prejuízo, mas seu plano de reestruturação ainda não foi divulgado pela Fiat, o novo sócio italiano que passou a liderar seu comando.
Segundo matéria do “New York Times” (07/01/11), as companhias automobilísticas americanas estão acelerando sua transição para fontes alternativas e verdes de energia, tendo como ponto de referência o preço projetado de petróleo a US$120 barril. A indústria japonesa ainda mantêm liderança na economia de combustível, mas Detroit vem diminuindo significativamente esse gap. Por exemplo: a fábrica Ford de Wayne, Michigan, produzia enormes camionetas famintas de petróleo. Hoje, após US$550 milhões de investimentos, essa fábrica é o símbolo de uma nova Detroit: produzirá o Focus, em versões progressivamente combustível –eficientes, inclusive a elétrica total. A GM já começou a distribuir o Chevrolet Volt, híbrido-elétrico, além de outros modelos poupadores de sub-produtos do petróleo.
Embora o setor automobilístico americano ainda ofereça mais modelos pesados do que seus rivais estrangeiros, a produção desses veículos encolheu de forma expressiva. GM, Ford e Chrysler fecharam várias plantas montadoras de pickup, SUV e vans, nos Estados Unidos e Canadá.
Apesar de persistirem incógnitas sobre a viabilidade econômica de algumas fontes energéticas alternativas, as maiores empresas automobilísticas do mundo estão engajadas no seu desenvolvimento. Mesmo que os consumidores ainda não estejam prontos para comprar carros híbridos e elétricos em grandes números, os fabricantes, inclusive os americanos, sabem que a busca por melhor eficiência nesse campo é irreversível.
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