“Com tanta tecnologia educacional disponível, por que um número tão grande de adultos analfabetos?”, perguntam no auditório
Sob frio constante e uma chuvinha que teimava em cair, estivemos em Clermont-Ferrand, a uma hora de avião de Paris. O que ela tem de notável, além da sua origem fortemente vulcânica, é a presença da matriz da empresa Michelin (os bondes elétricos que por ali trafegam têm pneus de borracha). Clermont-Ferrand tem 140 mil habitantes.
Mas o nosso objetivo, a convite do professor brasileiro Saulo Neiva, que lá se encontra há três anos, era conhecer e falar para os alunos da Universidade Blaise Pascal, no Museu das Ciências do Homem.
O tema por eles escolhido foi a situação atual da educação brasileira. São estudantes de língua portuguesa de várias partes do mundo.
Em primeiro lugar, sentimos o espanto diante da afirmação de que temos 60 milhões de estudantes, em todos os graus de ensino.
O esforço pela qualidade é visto com ceticismo, quando se sabe que os professores são formados de modo precário e recebem baixos salários (temos 3 milhões de professores e especialistas).
Uma pergunta do auditório dá bem a dimensão do interesse despertado pela conferência: “Com tanta tecnologia educacional hoje disponível, por que um número tão grande de adultos analfabetos?”.
De fato, parece incompreensível a existência de 14 milhões de adultos analfabetos. Procurei detalhar as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), em que isso figura em destaque. Há promessa de erradicação do analfabetismo até o ano 2020, mas não existe nenhuma garantia de que isso venha a ocorrer.
As metas do PNE são numericamente ambiciosas, mas não se sabe se haverá recursos financeiros e uma forte vontade política para que todos os objetivos sejam finalmente alcançados.
A Universidade Blaise Pascal (nome dado em homenagem ao grande pensador francês nascido na cidade) tem 16 mil alunos.
Hoje se empenha muito na educação à distância. Vê grande futuro nessa modalidade, na qual faz também pós-graduação. Deseja oferecer a “nuvem de livros” aos seus alunos e pretende um convênio com os autores da ideia, no Brasil.
No debate travado em Clermont-Ferrand, em dado momento, um aluno do Senegal perguntou a razão de não existir um sistema mundial de atendimento educacional à distância. Claro que é uma boa sugestão. Ele arrematou: “A matemática, por exemplo, é diferente em cada país?”. Concordamos com o seu ponto de vista.
Fonte: Folha de S. Paulo, 06/05/2013
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