A presidente Dilma Rousseff fará esta noite um pronunciamento em rede nacional de TV para saudar a volta às aulas. Ao longo de 5 minutos e 46 segundos, ela não apresentará qualquer novidade digna de nota. A novidade (e a própria importância do pronunciamento) está justamente aí.
A presidente da República ocupará o horário nobre de todas as emissoras abertas do país apenas para dizer que estudar é importante e que a educação está no centro das preocupações do governo. Parece pouco. Mas não é.
Fugindo à tentação de tecer comparações óbvias com a postura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do assunto, a atitude de Dilma sinaliza a importante decisão de apostar naquilo que o país inteiro considera indispensável para sua evolução social.
Não se está defendendo, aqui, a transformação desejável, mas impossível no espaço de uma ou duas gerações, do Brasil em um país de doutores.
Todos deveríamos nos dar por satisfeitos se nesse período nossos jovens saíssem da escola sabendo ler, escrever e realizar as quatro operações. Isso já significaria um avanço considerável das chances de futuro da próxima leva de brasileiros que disputará um lugar no mercado de trabalho.
O pronunciamento de Dilma deve ser visto de duas maneiras distintas. Uma delas é a da preocupação da chefe de Estado com um tema que é reconhecido como importante, mas que nunca foi posto na dianteira das preocupações do governo. Se for isso mesmo, ótimo.
A outra maneira é o de uma operação mais política do que de qualquer outra natureza. Dilma tem procurado, neste início de governo, marcar sua diferença em relação a Lula em aspectos delicados que expuseram o governo a críticas severas da comunidade internacional e de muita gente dentro do país.
O novo tratamento dado à área internacional, com um novo discurso em relação às ditaduras, é uma mudança importante.
Não defender o direito do governo do Irã de matar uma mulher a pedradas é um passo mais largo do que se imagina em direção a valores civilizatórios mais evoluídos. Mostrar preocupação com a educação é outro.
Se a decisão de conter a gastança federal for mesmo firme, como parece que é, aí então será possível apostar que este governo não será apenas a continuação daquele que passou.
Fonte: Brasil Econômico, 10/02/2011
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