O debate acerca de quem serão os candidatos à presidência da república já começou, e muito se fala sobre a falta de opções de novos candidatos. Mas, diferentemente do que muitos pensam, se lançar na corrida eleitoral para ocupar uma cadeira no Palácio do Planalto, não depende apenas de vontade individual ou de ser um cidadão que cumpre os requisitos estabelecidos pelo TSE. O próprio sistema político cria algumas barreiras para novas lideranças, e é importante entendermos quais são elas para que, assim, possamos buscar soluções.
O economista e ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, explica que os principais desafios para o surgimento de novas lideranças políticas no Brasil têm a ver com a grande quantidade de partidos existentes e com o alto valor das campanhas. Ouça!
“Nosso sistema político é absolutamente disfuncional. São muitos partidos que, em via de regra, não têm uma vida interna democrática. São apropriados por oligarquias partidárias e isso dificulta a aproximação de jovens líderes dessas organizações partidárias. Além disso, as campanhas são muito caras no Brasil. Tivemos duas medidas: o fundo eleitoral bilionário e a tentativa de aprovar o distritão. Na verdade, isso é uma tentativa de colocar muros para que não surjam novas lideranças e para que esse sistema político consiga sua reprodução”, explicou.
São, de fato, muitos desafios, mas Paulo Hartung destaca que a falta de incentivo de novas lideranças, por parte dos partidos, não têm necessariamente a ver com a falta de verba, pois há um fundo específico para financiar os partidos e outro para financiar a eleição, ou seja, há o fundo partidário e o fundo eleitoral.
“Desse fundo partidário, há um dinheiro para as fundações. As fundações foram pensadas como instrumento de debate e de formação de novos líderes. Até porque, ninguém nasce líder. Boa parte dos atributos de um líder é treinamento e formação. E temos essas fundações com muito dinheiro e, normalmente, esse dinheiro é desviado para outras funções e os partidos não cumprem esse papel de recrutar, estimular, treinar e formar novas lideranças”, ressaltou.
Leia também
A CPI não é o Brasil
“Reforma política é a mãe de todas as reformas”, afirma especialista
Os obstáculos para que novos nomes possam concorrer às eleições em cargos como o de Presidente da República, ou até mesmo de governador, de acordo com Paulo Hartung, estão diretamente relacionados com a estrutura política, que além de disfuncional, está bastante desconectada da vida da sociedade brasileira.
“Liderar no setor público é absolutamente desafiador. É muito comum ver líderes bem sucedidos na área privada fracassando no setor público, porque é diferente e tem uma complexidade muito própria. Então é bom que quem vai disputar um governo do estado já tenha vivido outras experiências que tenham a ver com convencer, motivar e mobilizar as pessoas em torno de objetivos claros”, comentou.
Como estimular a participação política?
Para incentivar o crescimento da participação na política, com novas lideranças e novos talentos, é preciso mostrar que a política é um instrumento que coopera com o desenvolvimento da sociedade.
“É separar a política, que é uma ferramenta transformadora, da politicagem, da política de baixa qualidade que temos muito presente na vida do Brasil”, comentou.
Outro ponto que deve ser destacado são as ações que os movimentos cívicos estão fazendo, partindo do pressuposto de que um líder pode ser construído. “Aprender a falar em público, montar um equipe, saber selecionar talentos. Boa parte desses atributos vem por treinamento. Espero que esses movimentos acabem provocando as fundações partidárias para que cumpram sua função, pois elas estão sendo omissas”, acrescentou.
+Reformar o Estado é fundamental para a qualidade da democracia
Paulo Hartung avalia que a evolução do sistema político trará muitas melhorias e que “mantendo a cláusula de barreira que foi aprovada na minirreforma política e mantendo o fim das coligações proporcionais, teremos o enxugamento do número de partidos e isso é ótimo, já que torna o sistema funcional”.
Perspectivas para os próximos anos
Além das medidas como a cláusula de barreira e a diminuição da quantidade de partidos políticos, o especialista considera que o voto distrital misto e o fim da reeleição podem cooperar muito com os bons resultados na política.
“Quem sabe mais à frente seja possível introduzir o voto distrital misto, que torna as campanhas mais baratas, torna o controle social sobre os representantes mais rígido e assim por diante. E acho que, no presente, o que pode ser endereçado é o fim da reeleição, pois alternância do poder é sempre muito bom na democracia e também renova os líderes”, concluiu.
+Conheça a Página da Cidadania
Aqui no Instituto Millenium, nós acreditamos que a sociedade pode se desenvolver ainda melhor quando a democracia é colocada em prática dentro da sua plenitude. Por isso, sempre produzimos conteúdos de qualidade para que nossos leitores tenham acesso à informação e consigam fazer as melhores escolhas.