Esta é a indagação que todos se fazem neste momento.
Para onde vão as economias dos principais mercados emergentes? Qual o efeito colateral diante da política monetária norte-americana em processo de normalização? Façamos uma análise, breve que seja, sobre o “estado atual” das economias da Argentina, do Brasil e na margem, da Turquia.
Sobre a Turquia existe uma “suposta democracia”, com o presidente Recep Erdogan conduzindo o País desde 2014, a “pulso forte”, não dando espaço para a oposição, muito limitada nas suas manifestações. A situação da economia é muito semelhante, nos indicadores, a outros emergentes, com uma situação fiscal delicada, déficit de 1,3% do PIB e dívida bruta de 27,8% do PIB. Preocupa o comportamento da inflação, em 12% pela taxa anualizada, e extremante sensível às variações cambiais. Até o dia 7 de junho, em 12 meses, a Lira Turca já perdeu 15,6% do seu valor, acompanhada de perto pelo Real, se depreciando 15,9% e, mais distante, do Peso Argentino, depreciado em 25,5%.
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Em resposta a isto, tanto o Banco Central da Turquia como o da Argentina já elevaram suas taxas de juros. O BACEN da Argentina (BCRA) elevou de 27,75% para 40% e o da Turquia, de 13,5% para 17,75% em dois momentos, em ambos os casos visando evitar a contaminação do câmbio depreciado sobre o sistema de preços.
Neste contexto, analisando a tabela ao fim, cabe observar que a Turquia e a Argentina possuem alguns pontos em comum. Nossos hermanos argentinos são muito dependentes de financiamentos internacionais e o seu déficit externo já passa dos 5% do PIB, o mesmo acontecendo com a Turquia (5,4%). Chama atenção também o fraco volume de investimentos externos diretos, com a Turquia acolhendo US$ 7,1 bilhões em 12 meses e a Argentina apenas US$ 2,1 bilhões. Em ambos, algum fluxo de capitais se observou nos anos recentes, mas acabou refluindo um pouco, na Argentina pelo excessivo gradualismo de Macri, na Turquia pelo regime político contraditório e as tensões geopolíticas. Cabe observar que a Turquia vem tentando ingressar na União Europeia desde 1987, mas ainda no aguardo de um sinal verde dos burocratas de Bruxelas. Já a Argentina, depois da posse do governo Macri, ingressou num ciclo de maior ingresso de investimentos externos, restabelecendo relações com vários players internacionais. Em dezembro, inclusive, haverá o encontro do G-20 em Buenos Aires, reafirmando esta “aproximação”.
Por outro lado, existem severas críticas do governo Macri no seu gradualismo fiscal, já que ele acabou obrigado a conduzir uma travessia, tentando se livrar da pesada herança de desgoverno do “ciclo Kirchner”. Tem sido duro. O déficit fiscal por lá é elevado, chegando a 3,5% e a meta estipulada pelo acordo com o FMI, fechado há algumas semanas, é reduzir a menos de 1,3% em 2019. Meta fiscal anterior era de 2,2%.
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Este aperto fiscal acabará afetando ainda mais o crescimento da Argentina. Depois de crescer próximo a 3% em 2017, deve desacelerar a 2% neste ano. Cabe observar que Macri, no início do mandato, entre 2015 e 2017, acabou realizando um realinhamento tarifário, ajustando-se às políticas populistas do governo anterior. Isso talvez nos aproxime, já que Dilma adotou a mesma estratégia, represando preços de energia e gasolina, o que, inclusive, ajudou a impactar ainda mais a Petrobras. Na Argentina, a tarifa de energia foi reajustada em 562%, a água em 338% e o gás 223%. Em paralelo, o salário nominal se elevou neste período apenas 72%. Isso, portanto, ajuda a explicar o patamar da inflação atual, neste ano já revisada a meta, de 15% para 25% anuais.
Uma crítica favorável na gestão Macri é o seu realismo. Diz o presidente argentino que não existem “soluções mágicas”. Atendendo aos ditames do FMI, mais flexível, aliás, nas suas exigências, pretende-se acelerar nos ajustes das contas públicas, numa clara crítica ao gradualismo anterior, e adotar metas inflacionárias mais ambiciosas. Ainda sobre o acordo com o FMI, importante considerar que agora a instituição considera “novos acertos que tentem adequar as implicações econômicas, sociais e políticas para o ajuste ser sustentável à longo prazo”. Ou seja, o FMI não determina mais acordos pesados, que só tendem a enfraquecer os países devedores. Agora, “nuances internas” devem ser consideradas, e cada acordo se molda à “situação” do país envolvido.
Falando do Brasil, são variadas as fragilidades neste momento. Temos um governo fraco, um regime fiscal em frangalhos, a economia desacelerando, a inflação ainda controlada, mas o câmbio esticado. Isso não preocupa pois, pelo lado das contas externas, a situação é bem mais administrável do que à dos outros emergentes analisados. Nosso déficit em conta corrente é bem baixo, 1,6% do PIB, e as reservas cambiais confortáveis, em torno de US$ 382 bilhões.
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Muitos consideram, no entanto, o Brasil, pela instabilidade política e as apostas contrárias do mercado a “bola da vez”. Será? Ainda não, mas se a instabilidade se mantiver por aqui, dado o cenário eleitoral indefinido, inevitável será sofrermos novas apostas contrárias nos mercados de ativos.
As agências de rating parecem bem atentas a isso e não descartamos novos rebaixamentos. Na análise da tabela ao fim nos encontramos no mesmo patamar da Turquia, acima da Argentina na nota soberana. Em complemento, no risco País nossa posição é mais confortável do que à da Turquia e da Argentina (330 pontos contra 481 da Argentina e 392 da Turquia).
Enfim, ainda temos alguma “gordura” para queimar neste duro ano de 2018. No entanto, está acabando.
TRAJETÓRIA DAS MOEDAS DA ARGENTINA, TURQUIA E BRASIL (%)