O quadro eleitoral permanece nebuloso. Mas a definição das alianças regionais e do tempo no horário gratuito no rádio e na TV permite medir com maior grau de fidelidade a força de cada candidatura à Presidência, de acordo com o método que sugeri em post no final de abril.
A avaliação se restringiu às cinco candidaturas com desempenho melhor nas pesquisas: Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e o candidato petista. Como a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ser indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a análise leva em conta o cenário mais provável, com o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad. Quem acredita que Lula será candidato pode refazer as contas com os números relativos a ele.
O cálculo está baseado em cinco fatores: desempenho nas pesquisas, tempo de televisão, palanques regionais, avaliação pelo mercado financeiro e carisma. Os quatro primeiros são medidos de modo objetivo, a avaliação do último é subjetiva, guarda espaço para fatores imponderáveis que podem ganhar relevo ao longo da disputa.
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Como toda leitura parcial da realidade, é um método sujeito a limitações, analisadas abaixo. Por isso mesmo, não configura uma previsão, muito menos atribuição de probabilidades. Trata-se apenas de uma tentativa de conferir algum grau de objetividade ao cenário confuso.
Ganha-se mais informação sobre a realidade eleitoral incluindo na avaliação outros fatores além das pesquisas. A análise, é importante lembrar, se refere ao presente e está baseada nos últimos números disponíveis para cada critério. Todos eles flutuam ao longo do tempo, portanto os resultados também são dinâmicos.
O princípio essencial continua o mesmo: a eleição é um jogo de soma zero, em que o ganho de um implica a perda de outro (ninguém pode votar em dois candidatos). Cada fator pode, portanto, ser medido de acordo com percentuais. Quando um sobe, outro desce.
Também é possível calcular médias ponderadas, de acordo com a relevância atribuída a cada fator. Esse tipo de decisão pode favorecer um ou outro candidato, como mostram as tabelas no final do texto. A ideia é que cada um faça as contas de acordo com sua própria opinião, de modo a perceber onde cada candidato concentra sua força. Eis os critérios adotados (e suas limitações):
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Pesquisas – Mesmo que não traduzam toda a realidade, são a forma mais precisa de medir o sentimento do eleitor. Nas tabelas, adotei o resultado da última pesquisa XP/Ipespe, divulgada na sexta-feira passada. Fiz essa opção por dois motivos: 1) a XP tem consistentemente avaliado o cenário mais provável, em que Haddad concorre, apresentado como o “candidato do Lula”; 2) os resultados da última rodada se aproximam da média das pesquisas no modelo do site Polling Data, mantido pelo estatístico Neale El-Dash (e também com os cenários formulados por ele para a pesquisa mais recente do Instituto FSB e com os dados de Ibope e Datafolha), portanto são consistentes com a realidade. Quem discordar pode se sentir livre para substituir os números por outros. A metodologia é mais relevante que o resultado.
Tempo de TV – Os tempos oficiais destinados a cada candidato foram definidos pelo TSE. Basta, portanto, atribuir a cada um o percentual do tempo total. Importante lembrar que o horário eleitoral gratuito influiu no resultado de todas as últimas eleições. Com um alto percentual de votos indefinidos (mais da metade), também poderá ser decisivo nesta.
Alianças regionais – Os palanques de cada candidato nos estados estão definidos. A equipe do G1, coordenada por Vitor Sorano, levantou o apoio dos 198 candidatos a governador oficialmente registrados no TSE a cada presidenciável (o resultado foi publicado numa série de quadros elaborados pelo infografista Alexandre Mauro).
Para calcular a potência regional de cada candidatura, considerei o apoio a cada um entre todos os palanques estaduais. Se reúne quatro apoios entre dez candidatos a governador, terá uma força equivalente a 40% naquele estado. O resultado nacional é calculado ponderando essa força pelo eleitorado de cada unidade federativa.
O critério padece de uma deficiência óbvia: como está baseado nas candidaturas oficiais no TSE, não considera as traições. O número do tucano Geraldo Alckmin pode estar um pouco superestimado por causa disso. Mesmo assim, entre quase 200 candidaturas a governador, não parece haver um número suficiente de traições que alterem o resultado de modo significativo – e elas também funcionam em todas as direções.
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Mercado – A aposta do mercado financeiro, formado por profissionais especializados em apostas, costuma ser um sinal relevante para entender as chances de cada um. Ninguém se elege no Brasil sem acenos à eleite econômica, embora ela não eleja ninguém por si só.
O critério adotado é o percentual de menções nos segundos turnos na última sondagem realizada pela XP Investimentos com 146 representantes de instituições financeiras. Como o resultado é do início de julho (último prazo autorizado pelo TSE), esse indicador está defasado. Mas é uma aposta e, por definição, tenta antecipar a tendência, portanto ainda pode ser levada em conta.
Carisma – Fiz uma avaliação simples, subjetiva, dos fatores emocionais associados a cada candidatura. Para simplificar, criei apenas três patamares: carisma alto (candidaturas do PT e de Bolsonaro), médio (Ciro e Marina) e baixo (Geraldo). Depois distribuí em percentuais que representam a força de cada um nesse quesito.
As tabelas a seguir apresentam quatro cenários. Numa média simples, a candidatura de Bolsonaro se destaca. Dando maior peso às pesquisas e, em menor grau, a tempo de TV e carisma, ele ainda demonstra mais força. Quando o tempo de TV ganha mais ênfase, Alckmin se mostra mais forte. Os dois se equilibram num cenário em que as pesquisas têm maior peso, e o tempo de TV fica em segundo plano, mas ainda acima de carisma, palanques regionais e percepção do mercado.
Como o PT ainda insiste na candidatura Lula, quem mais sofre na avaliação é Haddad, que ainda aparece fraco nas pesquisas. É um risco associado à estratégia petista. A força eleitoral do PT é conhecida. Ela provavelmente se maifestará assim que Haddad for o candidato oficial. Será então necessário refazer as contas e atualizar as tabelas.
Fonte: “G1”, 29/08/2018