Com uma renovação de 85% do Senado e de quase 50% da Câmara de Deputados, o eleitor brasileiro mostrou uma veemente insatisfação contra o sistema constituído. As urnas demonstraram que os brasileiros não aceitam mais a corrupção política. As pessoas estão cansadas de serem enganadas; não toleram mais pagar tributos escorchantes para um incompetente governo de canalhas. O Brasil cansou da farsa, exigindo a honra da verdade. Logo, os requisitos morais da decência e da integridade serão absolutamente definidores nas eleições de segundo turno.
Acontece que o grande fator de equilíbrio ainda não está definido. Contrariando experiências democráticas recentes de outros países, nas quais houve o surgimento de um “outsider”, o futuro presidente do Brasil será um político tradicional. Sim, tanto Jair Bolsonaro (PSL), quanto Fernando Haddad (PT), são quadros partidários antigos e longe de serem considerados iniciantes na vida pública nacional. Apesar da experimentados, os candidatos em disputa possuem diferenças frontais. Por exemplo, um defende o partido do Mensalão; o outro é um enérgico crítico da roubalheira pública; um critica a ação saneadora da Operação Lava Jato; o outro apoia o importante trabalho do juiz Sergio Fernando Moro. Portanto, o critério que definirá a opção do eleitor não será a novidade dos candidatos, mas os valores, as visões de mundo e os projetos de futuro para o nosso país.
A realidade está posta: precisamos, urgentemente, de uma nova mentalidade política. A decadência do Congresso Nacional é assustadora. Regra geral, embora ainda existam honrosas exceções, a classe política brasileira é jurássica, parasitária do Estado e exploradora do povo. Aliás, o Brasil é atrasado porque não consegue se libertar de ideias vencidas, recorrendo muitas vezes a teorias de Marx, Lenin e Gramsci para socializar o povo na pobreza e garantir a riqueza para os poucos donos do poder. Ou seja, é preciso libertar o Brasil da indigência cultural, da mentira fantasiada em teorias falsas e da má-fé embrulhada em discursos venais.
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Ora, as complexas sinuosidades da vida forçam a superação do pensamento linear. Por assim ser, o futuro da democracia será construído num caminho de aperfeiçoamentos imperfeitos em circunstâncias insatisfatórias. No plano interno, temos que fazer uma ampla e profunda reforma do arcabouço legislativo brasileiro de forma a possibilitar a rápida inserção do país na era tecnológica. De imediato, há que se redesenhar a totalidade do nosso sistema de ensino, retreinar a população economicamente ativa para os ofícios digitais, reestruturar a matriz tributária de forma a garantir uma justa divisão federativa e discutir uma série de supostos direitos adquiridos que apenas geram injustiças perpétuas.
Como se vê, os desafios que se avizinham são gigantescos. Além de respeitar os limites da Constituição, as mudanças do porvir exigem a observância das regras da democracia. Política é saber dialogar, é olhar nos olhos, é conquistar confiança e dar concretude a ideias vencedoras. Hora de virarmos a página da corrupção e começarmos, juntos, a escrever uma história republicana mais digna. Sem utopias, mas com decisões virtuosas. Não se trata de uma perfeição inalcançável, mas apenas a possibilidade de sermos felizes e de vivermos em paz.
Aqui chegando, a pergunta que fica é uma só: qual dos dois candidatos nos levará a um futuro melhor?