Uma das características centrais da crise financeira mundial é a perda de relevância das instituições um dia criadas para evitá-la ou, no mínimo, atenuar seu impacto negativo.
É o caso do FMI, o Fundo Monetário Internacional, fundado pelos grandes vencedores na 2ª guerra mundial para estabilizar os fluxos de pagamentos entre os principais países do bloco ocidental e, de lambuja, consolidar o dólar americano como moeda de referência e de reserva, fixando a primazia dos Estados Unidos como líder financeiro do mundo capitalista.
O Brasil teve participação discreta, mas inteligente, na histórica reunião de Bretton Woods que lançou as bases do novo sistema monetário, sobrevivente até o momento. Lá estavam, pelo Brasil, nosso mestre Eugênio Gudin e seu colaborador direto, Octavio Gouveia de Bulhões, ambos ministros da Fazenda em períodos distintos e, para quem é jovem e não sabe, com importantíssimas contribuições à ciência econômica entre nós, bem como fundadores da modernidade na política econômica brasileira.
O que sobrou daquele FMI e daquele padrão de políticos e cientistas sociais me parece muito pouco. Não por escassez de talentos nessas áreas, hoje em dia. Mas por que, talvez, seja impossível alguém participar de uma mesa de negociação internacional sem antes passar num teste de conformidade com os medíocres conceitos que dominam a cena econômica atual.
O FMI fora criado para ser o local das grandes decisões acerca da estabilidade monetária que afetasse um conjunto de países. Por isso tem uma história de intromissão nas crises de pagamentos do Brasil, com seus altos e baixos de atuação.
Contudo, a irrelevância da instituição se evidenciou neste século, por absoluta incapacidade de seus quadros em identificar, com um mínimo de nitidez, o embrulho financeiro armado pela explosão de liquidez sem lastro da era Greenspan-Bernanke. A Europa acompanhou a festa, do outro lado do Atlântico.
O FMI passou de fiador da estabilidade a apagador de incêndio, usando gasolina para combater o fogo. Suas previsões, antes de 2008, sobre o estado financeiro do mundo estavam totalmente furadas. Quando quebrou o Lehman Brothers, a previsão oficial do FMI ainda era de que o mundo cresceria forte em 2009! Continuaram errando. Dormiam enquanto desmoronava a confiança dos mercados nos papéis de Grécia, Portugal, Irlanda etc.
Agora mesmo, saíram corrigindo suas previsões mega otimistas sobre o PIB mundial em 2011 e 2012. Ainda vão errar mais, porque é proibido se falar algo próximo da verdade dos fatos numa reunião de ministros de finanças como a que ocorrerá, na próxima semana, aos auspícios do FMI e Banco Mundial. Como, então, seria possível para o mundo reencontrar seu caminho se o próprio piloto desconhece ou finge não saber qual a rota correta?
Nada de concreto sairá da reunião anual do FMI/Banco Mundial. É mais um desperdício de oportunidade política dos governos envolvidos – entenda-se: os principais governantes estão abalados ou derrotados em seus territórios, portanto sem força moral – e os economistas oficiais estão fadados a se expor ao ridículo, como no recente episódio dos pacotes de “socorro” desenhados pela tróica (FMI, BCE e UE) para salvar a estropiada economia grega.
A falta da verdade anima a especulação dos mercados. O FMI colabora com o agravamento da próxima trombada.
Fonte: Brasil Econômico, 23/09/2011
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