As eleições presidenciais de 2018 registraram o maior volume de votos brancos, nulos e abstenções da história desde a redemocratização no Brasil. Somando os votos nulos e brancos com as abstenções, houve um contingente de 42,1 milhões de eleitores que não escolheram nenhum candidato em 2018, cerca de um terço do total. Vale ressaltar que o presidente Jair Bolsonaro foi eleito com 57,7 milhões de votos, enquanto o candidato derrotado Fernando Haddad teve 47 milhões de votos. É como se o “ninguém” tivesse ficado em terceiro colocado na corrida presidencial. Não votar entre as opções disponíveis seria o melhor caminho mesmo? A Teoria dos Jogos e a Ciência Política trazem reflexões interessantes.
É verdade que a ideia de uma democracia obrigar o voto é um contrassenso per si. Além disso, seria útil, que os candidatos tivessem de convencer o eleitorado que vale a pena abrir mão de um pouco de tempo e se deslocar para exercer o direito para votar nele. A despeito disso, no sistema eleitoral brasileiro o voto é compulsório — e os brasileiros precisam lidar com isso, mesmo que o cenário nem sempre seja estimulante.
Na prática, no primeiro turno de uma eleição no Brasil há maior diversidade de candidaturas e propostas. Nesse momento, é mais comum o voto de apoio, com o eleitorado tendendo a ser mais favorável àquele nome escolhido. O voto em determinado nome, mesmo que este não chegue ao segundo turno, contribui para um efeito de sinalização à classe política do que tem sido demandado pelo eleitorado.
Contudo, o segundo turno tende a ser dominado pelo conceito de voto tático, que é explicado pela Teoria da Tomada de Decisão, do matemático americano John von Neumann. Ele formulou a “regra minimax”, segundo a qual em qualquer situação a melhor estratégia é minimizar a perda máxima possível. Pode ser inglório para o eleitor escolher alguém tão somente para evitar a vitória de um candidato cujo projeto se considera pessoalmente pior, mas abster-se pode significar, justamente, a vitória do pior. Assim, participar das eleições para votar estrategicamente a fim de minimizar a perda máxima não seria condenável por esta teoria, mas sim racionalmente a melhor alternativa.
Isso também ocorre porque, em disputas de segundo turno, o que predomina na decisão do voto não é a preferência ao candidato, como no primeiro turno, mas a rejeição. Dessa forma, o eleitorado tende a adotar um comportamento de votar naquele candidato que menos rejeita, e não que necessariamente representa a sua preferência.
Vale ressaltar que as eleições de 2022 têm sido caracterizadas, desde o primeiro turno, por um caráter plebiscitário, algo mais comum no segundo turno. A soma dos votos espontâneos dos dois candidatos que lideram a disputa em 2022, Lula (PT) e Bolsonaro (PL) — aqueles em que há maior probabilidade de voto — estão entre 65% e 72% a depender do instituto de pesquisa. Esse número é mais do que o dobro para as pesquisas das disputas presidenciais neste século ao final do primeiro semestre, o que evidencia a dificuldade para a viabilidade de um terceiro candidato.
Mesmo assim, em política nada é impossível, e a criação de fatos novos pode beneficiar o crescimento de outros nomes, mesmo que não sejam eleitos ao final do processo. Afinal, na política há também vitórias nas derrotas. Por exemplo, João Amoedo (Novo) em 2018, Marina Silva (então no PV) em 2010 e Heloísa Helena (então no PSOL) em 2006 perderam as eleições, mas os números expressivos obtidos na votação do primeiro turno elevaram seus respectivos patamares como atores do ciclo político seguinte, o que tende a ser benéfico ao debate público ao refletir maior diversidade ideológica.
Abster-se do debate público e do voto é uma opção individual e moral, mas deixar inteiramente nas mão de outras pessoas a escolha dos políticos cujas decisões impactarão a sua vida não se mostra o caminho mais racional.