É difícil imaginar países com instituições muito fracas funcionando normalmente. Pelo contrário, espera-se que essas debilidades levem esses países rapidamente para um declínio mais acentuado.
Parece que não há exemplo mais claro hoje disso do que na Argentina. Em visita ao país, nota-se uma dificuldade generalizada em fazer negócios, um certo cansaço da imprensa, que parece começar a jogar o jogo, e uma falta de oportunidade para os economistas de construir um caminho de crescimento para o país.
Bons economistas, aliás, é algo que a Argentina sempre teve e temos dois excelentes exemplos de “exportação” para o Brasil que são Fabio Giambiagi e Fernando Montero.
Mas existir capital humano está longe de ser suficiente para um país conseguir decolar. No caso de nosso vizinho, o governo tem sido muito ágil em criar as condições de declínio do país.
O jogo do governo é que exista qualquer problema. Inflação, por exemplo, é algo que é desmentido categoricamente pelas autoridades. Ao mesmo tempo, as negociações salariais recentes têm sido feitas na casa dos 35% a 40% nominais por ano, significativamente acima das estimativas de inflação, que estão na casa dos 20% a 25%.
A velha espiral salário-inflação que já vimos tantas vezes levar à aceleração inflacionária no Brasil começa a ficar mais crítica nos hermanos. E uma inflação que começa a ficar difícil de ceder, com sinais claros de maior indexação e convergência para números maiores.
No começo do processo inflacionário apenas 20% da cesta de produtos crescia acima de 20%. Hoje já são mais de 85% da cesta que cresce acima desse número. Qual a solução do governo para tentar baixar as expectativas? O governo de Cristina Kirchner quer impor um aumento de “apenas” 18% nominais ano que vem.
Com a inflação acima de 20% será difícil acreditar que os sindicatos, tão fortes no país, aceitarão tal imposição. O início do corte de subsídios feito semana passada tem limite, pois só pode ser feito em cima da parcela mais rica da sociedade, como de fato foi feito.
Além de colocar a elite mais contra seu governo ainda, apresenta também uma camisa de forca porque justamente a classe baixa que a elegeu não deverá perder os subsídios. Num momento de crise externa tão profunda convém manter a base de apoio que a elegeu afinal.
Mas como sempre, o que deve matar a Argentina será o setor externo. A recente medida de ter que declarar as compras de dólar feitas mexe numa instituição portenha. Pela eterna instabilidade, todos acabam tendo contas em dólares. Ao colocar controle de capitais num momento em que as reservas estão em queda livre vai colocar mais incerteza ainda.
Afinal, quem está comprando dólares com receio de alguma coisa é a própria população e não capital que esteja saindo do país. É a própria população escaldada de governos intervencionistas que está apostando contra Cristina.
Como dizem na Argentina que as crises aparecem no verão, quando todos estão de férias distraídos com os problemas internos, devemos esperar fortes emoções ate o final do verão.
Fonte: Brasil Econômico, 21/11/2011
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