Por Fernando Barbosa e Samuel Pessôa
A taxa de desemprego tem apresentado queda muito acentuada há muitos anos. Por exemplo, entre julho de 2003 e julho de 2011, a taxa de desemprego caiu mais de 50%, apresentando redução de 13% da população economicamente ativa para 6,2%, uma impressionante queda de 6,8 pontos de percentagem, ou de 57%. Para tornar o fato mais surpreendente, toda esta queda ocorreu em um período que o salário mínimo real deflacionado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) elevou-se em 45%! O objetivo deste artigo é mostrar que, apesar de elevada, a queda do desemprego é bem menor do que se imagina.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga mensalmente a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) que, entre inúmeras informações referentes ao comportamento do mercado de trabalho no Brasil, investiga a taxa de desemprego. Ocorre que a PME não pesquisa em todo o território nacional. O IBGE vai a campo em algumas regiões metropolitanas: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Assim, a expressiva queda do desemprego mencionada no parágrafo anterior ocorreu de fato somente nestas regiões metropolitanas.
Para avaliarmos a queda do desemprego no Brasil como um todo, temos que utilizar uma pesquisa cuja abrangência seja o território nacional. Uma vez por ano, no mês de setembro, o IBGE vai a campo em todo o território nacional para coletar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Para um horizonte de tempo longo podemos desconsiderar oscilações intra-anuais de desemprego. Assim, cruzando os dados de desemprego das diversas PNADs de 2002 até 2008 (a última PNAD disponível é a de 2009, que não foi empregada neste estudo pois estávamos nos recuperando da crise de 2008) com os dados do mês de setembro da PME, é possível comparar a queda do desemprego das duas pesquisas.
A tabela sumariza a evolução da taxa de desemprego no mês de setembro para os anos de 2002 até 2008. Na última linha lê-se a variação da taxa de desemprego em pontos de percentagem para o período. Há quatro colunas numeradas de (1) até (4). Na primeira coluna encontra-se a evolução da taxa de desemprego para todo o território nacional obtidos com a PNAD. A segunda e terceira colunas apresentam a taxa de desemprego medida respectivamente pela PNAD e PME para as regiões metropolitanas pesquisadas pela PME. Finalmente, a quarta coluna apresenta a evolução da taxa de desemprego para todo o território nacional excluindo as regiões metropolitanas pesquisadas pela PME.
Os seguintes fatos ressaltam. Primeiro, apesar da taxa de desemprego medida pela PNAD (segunda coluna) para as mesmas regiões metropolitanas da PME (terceira coluna) ser aproximadamente 2 pontos mais elevada, a queda no período é próxima: 3,5 pontos para a PNAD e 3,8 pontos para a PME. Segundo, a queda do desemprego para o Brasil foi significativamente menor: 2 pontos contra 3,5 pontos nas regiões metropolitanas da PME como medido pela PNAD. Ou seja, entre 2002 e 2008 a queda do desemprego no país todo foi 57% da queda do desemprego medido pela PME. Terceiro, a queda do desemprego na região complemento das regiões metropolitanas da PME foi de 1,4 ponto, portanto, bem menos expressiva. Assim, a forte queda do desemprego verificada de 2002 a 2008 foi um fenômeno essencialmente metropolitano.
O que podemos dizer do desemprego atual? A Tendências Consultoria Integradas projeta que o desemprego da PME em setembro próximo será de 5,7%. Representará uma queda de 5,7 ponto em comparação com os 11,5% da PME de setembro de 2002. Expressiva queda de 50%. Se a queda observada no Brasil for de 57% da queda da PME – como ocorreu entre 2002 e 2008 – teremos uma queda de 28% (resultado da multiplicação de 0,50 por 0,43). Dado que o desemprego no Brasil todo em setembro de 2002 foi 9,1% (veja primeira linha da primeira coluna da tabela) teremos que o desemprego em setembro de 2011 será de 6,5%, não muito diferente dos 5,7% previstos para as regiões metropolitanas da PME. A conclusão é que todo o processo de redução do desemprego observado desde 2002 até 2011 produziu provavelmente uma convergência entre a taxa de desemprego nas regiões metropolitanas das taxas de desemprego do resto da economia brasileira. É possível que o espaço para novas rodadas de redução do desemprego tenha se esgotado.
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2011
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