A última década no Brasil foi marcada por um maior interesse político por parte dos brasileiros. Desde as Jornadas de Junho de 2013, manifestações de rua tornaram-se mais comuns. Elas foram, inclusive, decisivas em momentos-chave, como o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, bem como na aprovação de mudanças legislativas, como a reforma da previdência em 2019, além de mobilização tanto do Governo Bolsonaro quanto de sua oposição.
As redes sociais também mudaram um palco político e eleitoral, sendo fontes de informação (mesmo que, via de regra, superficial), para muitos brasileiros que, de outra forma, não lêem editoriais de jornal. Isto é, não parece ter havido uma substituição de consumo de notícias e informações de grande profundidade para um cenário de recortes de manchetes, memes e elementos parcos, mas sim um acréscimo a um público que antes não se informava tanto.
Todavia, por mais mobilizada politicamente que parte da sociedade brasileira passou a ser, o interesse nas eleições dos representantes políticos ainda é muito baixo. Em 2018, a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, da Confederação Nacional da Indústria, questionou o nível de interesse nas eleições dos brasileiros. A resposta de 61% dos respondentes foi de “pouco interesse” e “nenhum interesse”.
Esse dado reforça a percepção de que a eleição dos políticos tende a ser decidida pelos não apaixonados pela política, e que acompanham pouco ou nada a respeito deste universo.
Para os atores políticos, a massa de apaixonados é muito importante, pois possibilita a criação de momentum, isto é, impulso, ímpeto e força dos candidatos.
Os eleitores apaixonados abraçam mais narrativas, podendo endossá-las ou rejeitá-las, sendo suficiente para as erguer perante outros candidatos, fornecer a sensação de sucesso e, eventualmente, levar à disputa pela candidatura e até ao segundo turno em casos de eleições majoritárias, como a prefeito de cidades com mais de 200 mil habitantes, de governador e presidência da República.
Todavia, em disputas de segundo turno, o que predomina na decisão do voto é a rejeição aos candidatos. O eleitorado tende a adotar um comportamento de votar naquele candidato que menos rejeita, e não que necessariamente representa a preferência.
Sem juízos de valor, isso significa que quem decide eleições não é quem lê planos de governos dos candidatos, tampouco necessariamente possuem maior preparo técnico de causa e consequência de políticas públicas. Também não significa que quem o faz vote melhor e tenha menor viés ideológico em suas escolhas.
Tanto é assim que Escolha Pública, a escola da Ciência Política, consolidou a teoria do eleitor ignorante racional. Afinal, ninguém tem tempo para se informar profundamente sobre política, exceto os profissionais partidários, publicitários, militantes, ativistas, jornalistas e intelectuais em geral.
A maioria dos indivíduos tende a estar ocupados e buscar informação sobre política de forma parca. E, como o voto é matematicamente irrelevante do ponto de vista individual, optar pela ignorância tende a ser uma escolha racional.
Como convencionou-se apontar a partir dos estudos do economista Bryan Caplan, indivíduos são mais racionais nas escolhas de celulares do que quando votam. Uma verdade que pode trazer reflexões filosóficas acerca da própria legitimidade de pleitos eleitorais.