A aparição do ex-presidente Luiz Inácio com objetivo de socorrer sua afilhada política, Dilma Rousseff, por conta do escândalo provocado pelo meteórico enriquecimento do ex-trotskista, ex-prefeito de Ribeirão Preto, ex-ministro da fazenda, ex-deputado federal, atual chefe da Casa Civil e braço direito da presidente, Antonio Palocci, merece algumas reflexões.
Em fotos estampadas em jornais Luiz Inácio apareceu eufórico entre senadores do PT quase genuflexos diante do chefe. De calça branca ao ex-presidente só faltavam os sapatos bicolores e o chapéu de panamá para completar o traje porque, como todos sabem, a política é feita de malandragem, assumindo frequentemente aspectos de capoeira.
Luiz Inácio, confortável em seu terceiro mandato, reuniu-se com partidos satélites do PT, almoçou com sua afilhada e o reincidente Palocci, deu muitos conselhos a Rousseff que prontamente obedeceu aos ditames do tutor. Ela deixou por breves momentos seu silêncio sepulcral, seu recolhimento misterioso e veio a público defender o risonho Palocci, mudo como a ex-primeira-dama Marisa Letícia que parece ter feito escola. Não se sabe, porém, se a aparição de Rousseff apaziguou os ânimos das bases aliadas, que andam um tanto desalinhadas, se despistou as incríveis fábulas ganhas por um de seus “três porquinhos” de campanha.
A presidenta, como Rousseff gosta de ser chamada sendo, portanto, uma governanta e não uma governante, não pronunciou a famosa frase petista quando a situação aperta: “assunto encerrado”. Não conseguiu acabar com a encrenca Palocci e, pior, lançou dúvidas sobre o cargo presidencial sendo lícito perguntar: quem governa?
Como se sabe foi Luiz Inácio quem praticamente compôs o atual ministério indicando, pelo menos, os ministros mais importantes. E se chegou a dizer, segundo a imprensa, que sem Palocci o governo de Rousseff se arrastaria até o fim, isto significa que não confia tanto assim na eficiência de sua sucessora como apregoava na campanha. Por que, então, a colocou lá?
Bem, em primeiro lugar, porque os possíveis quadros de seu partido não tinham condição de disputar nenhum cargo eletivo, ainda mais a presidência da República. Entre eles, José Dirceu, outro ministro da Casa Civil que teve sérios problemas com algo chamado eufemisticamente de “mensalão”, que na linguagem usual é denominado de suborno e punido como crime nos países onde as leis funcionam. Dirceu voltou à Câmara de deputados, foi cassado e chamado por uma autoridade do Judiciário de “chefe da quadrilha” do “mensalão”, o que não o impediu de ser feliz em suas consultorias e de ter continuado a exercer influência no PT. Dirceu está certo de que será perdoado de todas suas culpas na Justiça, como Palocci o foi e todos os “mensaleiros” serão. Então, quem sabe, alcançará seus sonhos mais elevados.
Entre os muitos “quadrilheiros” do “mensalão” estava também Delúbio Soares, tesoureiro do PT, que por ter seguido a lei omertá e assumido todas as culpas dos companheiros durante muito tempo teve em sua recente volta ao partido calorosa recepção. Impressionante contraste com o PT de outrora que se dizia o único partido ético, aquele que viria para mudar o que estava errado, inclusive, a corrupção.
Nos mandatos de Luiz Inácio a avalanche de escândalos nunca antes havida neste país foi bem assimilada pela sociedade, enquanto o presidente da República dizia nada saber a respeito dos fatos mesmo quando as falcatruas eram praticadas por seus subordinados mais próximos e mais íntimos.
Agora, no governo PT/Rousseff, o escândalo inicial atingiu novamente a Casa Civil, que teve como inquilina anterior a ministra chamada jocosamente de Erê 6%, conhecida por suas práticas nada edificantes no exercício da função e que foi o braço direito da atual governanta. Também Erê parece seguir seu caminho sem medo de ser feliz.
Em segundo lugar, Luiz Inácio, sem opção para indicar seu sucessor entre companheiros de partido, parece ter pinçado Dilma Rousseff não por suas qualidades de excelência gerencial, mas, exatamente pela falta destas. Desse modo, se a herança maldita lulista na economia e na política seguir pesada demais, em quem o povo porá a culpa? Em Rousseff e não naquele que virá novamente para salvar pobres e oprimidos em 2014. Afinal, o PT não pretende sair do poder pelo menos nos próximos 20 anos e já traçou seus caminhos facilitados pela ausência de oposições coerentes e firmes, pela falta de Poder Judiciário que puna crimes e abusos e da eficácia da propaganda que mantém a bestificação popular.
Palocci pode até ser beatificado junto com irmã Dulce, contudo, as ciladas do poder não garantem que roteiros traçados de antemão se realizem. Os aliados de hoje podem ser os adversários de amanhã no jogo pesado das ambições. Diante dos acontecimentos é cedo ainda para saber quem governa ou governará, se Luiz Inácio, Dilma Rousseff ou Michel Temer.
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