O Brasil é gigante. Coisa que se aprende no curso primário. É gigante desde o descobrimento, em termos geográficos. Ficou mais gigante “vergando a vertical de Tordesilhas”. E já é um gigante em termos econômicos também, entre as dez maiores economias do mundo, embora trocando de posição conforme o ano. Está no Grupo dos 20, do Fundo Monetário Internacional. Integra o grupo de emergentes apelidado de Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O fato de abrir a lista do grupo é mera conveniência fonética. Não sugere liderança.
O que não dá para ver direito nem se ensina nas escolas é que o gigante vem se dobrando a cada ano ao peso de um saco às costas, que, ao contrário do de Papai Noel, não traz alegrias. Exasperador e desesperador, é um saco de desafios, problemas e dramas que intimidariam qualquer Adamastor.
Em 16 dias estaremos dando o primeiro passo, de dois, para escolhermos o próximo Adamastor.
No saco às costas do gigante estará a herança maldita de gerações de políticos cúpidos, demagogos de variada espécie, ladrões de casaca, inventores de rodas quadradas, subintelectuais e infraintelectuais que açambarcaram a direção do país, desde quando este acreditou que a vara de condão da República e o espírito modernizador de uma democracia representativa constitucional seriam o berço e o início de um Estado moderno, civilizado e progressista. Até inscrevemos em nossa bandeira, como nova exortação: Ordem e Progresso.
Nossas classes dirigentes, desde então, cuidaram, até relativamente bem, de colocar ordem nelas mesmas e cuidar do seu próprio progresso. Dilma, Lula e o PT… aderiram!
A maioria da sociedade ficou à margem da ordem estabelecida e do progresso gerado. A educação praticamente largou-se às traças durante grande parte do século passado. A saúde, a higiene, o saneamento, ainda hoje, ficam distantes do cotidiano da maioria dos brasileiros. A segurança e a Justiça apanham todos os dias do crime organizado ou não. O planejamento judicioso da ação dos governos foi experimentado em alguns momentos (com resultados positivos, aliás, embora descontínuos). Mas, na maioria do tempo e na maior parte do Brasil, governou-se e governa-se em cima do joelho – ao sabor das pesquisas do Ibope.
Em meados do século passado tentou-se estabelecer o planejamento como princípio orientador das ações governamentais. O governo do Estado de São Paulo, com Carvalho Pinto e o PAG, Plano de Ação Governamental, deu força a essa política. E na área federal, com Vargas e, depois, JK, foram plantadas alavancas de desenvolvimento econômico de longo prazo, como a Eletrobras, a Petrobras, o BNDES, o Ministério do Planejamento; algumas políticas de desenvolvimento social, como a unificação dos dispersos institutos de previdência, a criação de fundos habitacionais de larga escala, a expansão de escolas públicas de primeiro e de segundo graus.
Mas quase tudo cai na desordem com a primeira crise política ou mudança de governos. Cada novo governo quer inventar a roda e proclamar que nunca na história deste país foi feito o que ele faz. Alguns desmancham o que já foi feito, para poder assumir iniciativas de sua lavra. E assim o gigante dá dois passos para a frente e um para trás. Às vezes até três para trás. Como no governo Dilma, cuja FBCF (taxa de investimento) está voltando ao nível que teve em 2007 – 17% do PIB -, marcha à ré de sete anos (chegou a 24% do PIB em períodos remotos).
O peso dos atrasos acumulados segura a velocidade de marcha do gigante. Neste ano, o PIB talvez cresça apenas 0,2%. Mais atrasos se acumularão. Serão pagos sob a forma de mais impostos a cada ano.
O saco de atrasos será passado com alguns quilos mais. E nenhum dos candidatos tem um plano ou estratégia para começar a esvaziá-lo. Aécio não aprontou o seu. O de Marina não se conhece. O de Dilma é o que já deu nisto que aí está.
Fonte: O Estado de S.Paulo, 18/09/2014.
Sr Marcos .O Sr disse o que todos nós estamos cansados de ssaber . Sugestões ideias para debate esperança ao menos, seriam bem vindas.