No início dos anos 1990, quando a televisão por assinatura começou a florescer no Brasil, as projeções de crescimento que se faziam à época para quem gostaria de ter esse serviço em sua casa equivaliam ao interesse despertado por um filme que conseguia ter um estrondoso sucesso de bilheteria.
Mas a qualidade da programação das operadoras demonstrou ser um fracasso de crítica e de público.
Canais com intervalos comerciais não sincronizados com o horário brasileiro faziam com que os anúncios publicitários interrompessem a programação num ponto sem dar continuidade a ela ao final do comercial. Quem estava assistindo a um filme perdia um trecho dele durante o intervalo.
Grande parte dos canais era falada em espanhol ou inglês, sem tradução nem legenda, o que talvez só satisfazia aqueles esnobes cinéfilos que consideram uma heresia dublar qualquer tipo de filme. As emissoras especializadas em música, em sua maioria, exibiam clipes de artistas caribenhos à exaustão, a ponto de muita gente, até hoje, não tolerar mais ouvir uma só nota musical desse ritmo.
Outra pegadinha era o futebol. No início, as operadoras usavam a transmissão ao vivo, mesmo nas praças onde se realizavam os jogos, sem cobrar a mais por isso, para atrair clientes. Com o tempo, os clássicos foram substituídos por partidas de menor expressão, até chegar à fórmula atual, em que, além da mensalidade, é preciso desembolsar outra quantia para ver os principais jogos.
Um dos poucos fatores interessantes foi constatar de onde se inspirava a nossa televisão aberta, incensada como de boa qualidade. Além de imitar o cenário, até a risada de um dos músicos do programa The Late Show with David Letterman foi clonada pelo seu congênere Jô Soares. Gugu, Faustão, Sílvio Santos, noticiários policiais apelativos, entre vários outros programas, bebem da mesma fonte.
Hoje, em 2011, as operadoras corrigiram várias dessas falhas, mas continuam cobrando caro por um conteúdo de qualidade discutível. Por exemplo, há emissoras cujos intervalos chegam a ser maiores que as partes que transmitem dos filmes.
Pior que isso são os canais por assinatura que alugam significativa porção de sua grade para empresas de televendas. Incluem-se aqui desde os de séries até os circunspectos de documentários. Será que o assinante topa coçar seu bolso para ver comerciais?
A polêmica causada pela nova lei da televisão paga acerca das imposições de conteúdo nacional e do estabelecimento de horários e critérios de qualidade da programação pode trazer à discussão a urgente necessidade de popularização da TV digital aberta, cuja imagem e o som chegam a ser melhores que os da paga, mas ainda estão restritos a pequena parcela da população. É uma opção gratuita para quem compra televisão por assinatura só para melhorar a recepção.
Fonte: Brasil Econômico, 31/08/2011
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