Não é de hoje que me chama a atenção o fato de terem cessado suas atividades tradicionais colégios dedicados ao ensino primário e secundário e que, em seu lugar, e servindo-se mesmo das antigas instalações, surgiram entidades de Ensino Superior. Não sei se o fenômeno tem caráter geral, mas é o que vejo na capital do Rio Grande; daí o registro que faço, tanto mais quando o ensino primário e secundário, aqui e ali abandonado, era do melhor nível; quem não se lembra do Sevigné, do IPA, do Cruzeiro do Sul? De outro lado, o Ensino Superior depende largamente da qualidade do secundário, como este do primário e é sabido que esse se tem expandido sem se haver aprofundado; a este respeito, têm sido divulgados alguns dados expressivos, alunos que chegam ao fim do ciclo, que leem, mas não sabem o que leram. Outrossim, a proliferação de escolas superiores é visível a olho nu e até universidades têm surgido e crescido, bastando dizer que na mesma cidade, de porte médio, convivem duas e até três instituições assim denominadas.
A contrastar com esse quadro, que sugeriria um paralelo esplendor cultural, acabam de ser divulgados, sob a responsabilidade do Ministério da Educação, as conclusões de análise ainda que incompleta desse relevante segmento social: centenas dessas entidades estão longe de preencher os requisitos mínimos de uma instituição de Ensino Superior, tenha o nome que tiver.
Ora, aí se encontra o dado fundamental para aferir o merecimento do fenômeno e, penoso é reconhecer, é decepcionante. Recolho um ou outro fragmento dessa realidade. Das 2.176 instituições de Ensino Superior analisadas, mais de 30%, 683, foram consideradas incompatíveis com sua destinação, com índices 1 ou 2 numa escala de 1 a 5. Na mesma linha, outros dados se sucedem.
Suponho que esses fragmentos sejam bastantes para se ter uma ideia da qualificação da parcela superior do nosso ensino. Em matéria de Faculdade de Medicina, por exemplo, o caso é mais contristador. Parece que só uma, por sinal, do Rio Grande do Sul, atingiu a melhor posição, 5, em uma escala de 1 a 5. O que é particularmente grave é que essa situação não é casual, mas se repete em três anos consecutivos.
Nem se imagine que o quadro chocante apenas debuxado decorra da sempre proclamada pobreza de alguns Estados, pois São Paulo, ressalvadas as devidas exceções, ostenta número exagerado de instituições educacionais deficitárias quanto ao mérito.
Mas, ao lado das piores entidades de Ensino Superior, no estudo a que me venho referindo também aparecem as melhores. Correspondem a 1,4%. Entre elas estão as Universidades Federais do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, de São Paulo, o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, o Instituto Militar de Engenharia e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Fico por aqui, voltando a dizer que o alicerce do Ensino Superior reside em segmentos mais modestos, o primário e o secundário, modestos em termos, pois imprescindíveis.
O ex-presidente Luiz Inácio se vangloriava de que, não tendo diploma acadêmico, fora o governante que maior número de universidades havia criado. Aceito, ad argumentandum, a jactanciosa assertiva, mas me permito lembrar que há universidades e universidades, Il y a fagots et fagots, boas, médias e más, e a questão reside na qualificação de faculdades ou universidades tiradas do nada. Quem duvidar, passe os olhos pelo relatório do Ministério da Educação.
Fonte: Zero Hora, 28/11/2011
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