É difícil imaginar uma receita de criação de pobreza mais eficiente que a proposta pelos partidos nanicos da esquerda.
De todas as contradições desta eleição, a mais interessante é a que envolve os partidos radicais da esquerda (PSOL, PSTU, PCO) e suas propostas para acabar com a miséria e a desigualdade. Nos debates, no horário eleitoral, nas entrevistas, os candidatos desses partidos falam sobre os baixos salários, mostram cenas de crianças miseráveis, desfilam como os grandes defensores da igualdade, os maiores inimigos dos ricos. Mas prometem justamente as medidas que, em todos os países em que foram implantadas, resultaram em mais miséria, mais pobreza, mais burocratas com um poder desigual diante dos outros cidadãos.
O PSOL, de Plínio de Arruda Sampaio, sugere reestatizar empresas privatizadas e “refundar a estratégia do socialismo”. O PCO diz que vai suspender o pagamento da dívida pública. E os candidatos do PSTU afirmam que o único meio de acabar com a fome é romper com o imperialismo mundial e o FMI. É difícil imaginar uma receita de criação de pobreza mais eficiente que a proposta por esses partidos.
A economia fechada e o aumento do Estado fizeram a Argentina, que já foi o único país do Primeiro Mundo na América do Sul, patinar por todo o século 20. Depois do famoso calote de 2002, mais de 2 milhões de argentinos se tornaram pobres num único mês. Na Venezuela, o “socialismo do século 21” aumentou o número de bebês subnutridos (de 8,4% para 9,1% entre 1999 e 2006), as casas sem acesso a água, a pobreza e o índice de Gini, que mede a desigualdade econômica. A economia deve diminuir entre 3% e 6% em 2010 – enquanto os vizinhos comemoram os tempos de prosperidade.
Mais que multiplicar a pobreza, esse modelo cria uma desigualdade institucional que lembra os tempos de nobreza e feudalismo. Como descreveu Otto Graf Lambsdorff, ex-Ministro da Economia da Alemanha da década de 1980, o Estado pesado demais cria “uma classe parasita de burocratas socialistas e de políticos que obtém benefícios por meio de excesso de regulamentação e da corrupção ou por meio da administração de vastos impérios de indústrias e de bancos nacionalizados”.
Se os candidatos da esquerda radical estão realmente comprometidos com a redução da pobreza, devem seguir os países que conseguiram tratar esse mal. São em geral nações que percorreram um caminho parecido. Diminuíram os impostos, as barreiras comerciais e o controle do governo nos transportes e nas comunicações. E seguiram a regra ridiculamente básica sugerida pelo FMI: não gastar mais do que se arrecada.
Com poucas diferenças, foi isso que fez a Irlanda, a Coreia do Sul, Singapura e outros campeões de redução da miséria. Costa Rica e outros países da América Central, depois de estabelecer acordos de livre comércio com os Estados Unidos, estão transformando pobres em classe média. O exemplo melhor e mais próximo é o do Chile. Enquanto privatizava mais de 400 estatais, derrubava encargos trabalhistas (eles somam hoje só 4% do total do salário, dez vezes menos que no Brasil) e assinava acordos comerciais para se tornar uma dez economias mais abertas do mundo, o Chile via suas favelas virarem bairros. Em 20 anos, a taxa de pobreza caiu quase três vezes – é hoje de 13%, menos que a metade da média latino-americana.
A luta contra a pobreza encampada pelos partidos radicais esbarra num equívoco fundamental. Diante de uma multidão de miseráveis e de poucos enriquecidos, o rebelde da esquerda liga os dois pontos e explica a pobreza pela luta de classes: os pobres existiriam por causa dos ricos. Não é fácil entender que a pobreza existe por falta de ricos, de pessoas com dinheiro que disputem o serviço dos mais pobres. Mais difícil ainda é admitir que o melhor jeito de diminuir a pobreza é facilitando a vida dos geradores de riqueza. Quem é “contra burguês” também é contra os pobres – e contra o próprio país.
Será que os nanicos da esquerda não conhecem esses princípios básicos de economia? Provavelmente sabem, sim. Acontece que o objetivo deles não é acabar de verdade com a pobreza. E sim desfilar como radicais – o que acaba dando apoio a partidos mais moderados donos dos mesmos equívocos.
No caso dos partidos de esquerda o discurso deles só tem um pequeno problema, chamado realidade.
Excelente artigo. Excelente livro. Graças a Deus a sociedade brasileira não se deixa levar pelas ideologias nanicas desses partidos nanicos. Como postou acima o 1berto, a realidade é a maior refutação a essa ideologia socialista que sempre fracassou por onde passou.
Um dos grandes problemas da desigualdade social é a deformação que ela causa na personalidade dos indivíduos submetidos a ela. Quem é menos assistido, menos ouvido, menos considerado, se acostuma a ser “menos” e custa a achar dentro de si a força pra lutar por seus direitos de humano e garantias de cidadão. Por outro lado, quem é mais rico, mais cuidado, mais garantido, se acostuma a ser “mais” e passa a menosprezar a força e a inteligência dos demais.
Na esquerda brasileira existem muitas pessoas inteligentes (algumas geniais), comprometidas com a discussão de um país socialmente justo e economicamente viável. Minimizar esse acúmulo é sinal de má vontade, má intenção ou desinformação. O Plínio Arruda Sampaio, que eu tenho certeza que você não conhece a não ser de nome, senão não o citaria de forma tão equivocada, assim como Florestan Fernandes, Nelson Coutinho, Milton Santos e tantos outros expoentes da mentalidade “nanica”, deram passos importantes no pensamento político, econômico e social do Brasil.
Talvez o caminho de estabilidade que você indica como uma solução óbvia (aliás, você é genial, muitas mentes privilegiadas não têm tantas certezas quanto você, em seu simplismo) chegasse a diminuir a miséria ao longo dos anos. Mas quando o assunto é miséria, meu caro, não é possível falar em mais tempo ou em diminuição. É preciso falar em erradicação rápida. Chame de radicalismo, se quiser, você chamaria de salvação se estivesse passando fome.
Você leu com muita atenção, mas pouca sensibilidade, os dados que dão conta do crescimento econômico da América Latina. Não se atentou para o custo desse desenvolvimento “pelo alto”, que durante os anos 90 nos subordinou econômica e culturalmente aos países ricos. Talvez de maneira irreversível (e quem diz isso não sou eu, eu não sou tão visionária quanto você).
A “prosperidade” do Chile, citado por você, se parece (ouço isso de chilenos sensíveis às questões sociais desse país) com a que enganou o Brasil em alguns períodos, como durante o governo FHC. Ao passar um verniz de prosperidade na cara do país, ficamos cada vez mais distantes de qualquer solução profunda e efetiva para a pobreza e a exclusão, que ataque a causa e não o sintoma. O prof. Fábio Konder Comparato explica de forma muito esclarecedora que o Brasil vem se consolidando com um país de duas caras: uma cara emergente e progressista virada pra fora, e outra estagnada e conservadora vidada pra dentro. Outro grande nome do pensamento “nanico”.
O Brasil é um país impar. Não deve seguir o exemplo da Irlanda, nem o da Venezuela, deixe de bobagem. Soluções superficiais, simplistas e espetaculosas – do tipo revista Veja – só servem para alienar a sociedade e nos afastar ainda mais do caminho da autoconsciência que leva ao verdadeiro desenvolvimento: cultural e social, coerente e sustentável.
Se você prega que a riqueza é a solução para a pobreza, precisamos rever o conceito de riqueza. Dinheiro não dá cria. Se sobra aqui é porque está faltando ali. E não me venha falar da prosperidade dos Estados europeus que exportaram a pobreza inerente à riqueza para a periferia do capitalismo (roubando, abusando e explorando os povos e países pobres) com uma violência que não é exemplo pra ninguém. Essa soluçãozinha: facilitar a vida dos ricos melhora a vida dos pobres, me parece tão absurda quanto leviana. Já seria arbitrário e desumano legar definitivamente a algumas pessoas a condição de patrão e a outros a de servente, pois que somos todos igualmente humanos herdeiros da humanidade e cidadãos soberanos do país. Além disso, os ricos contratam os pobres e continuam enriquecendo… Isso gera pobreza.
Sugiro que você conheça a pobreza fora da teoria. Vá ver a violência que é para uma criança pobre ir dormir sem comer em um barraco ao lado de uma mansão em que outra criança igual a ela (pelo menos deveriam ser iguais) dorme bem alimentada. Não se trata de uma rixa político-eleitoral, como quer resumir o tucanato, mas de um abismo classista e ideológico entre os que sofrem com a pobreza e os que enriquecem à custa dela. Entre os que defendem e os que dizem defender os Direitos Humanos, a Cidadania e o desenvolvimento socioeconômico do país.
HAHAHAHAHAHA
“passos importantes no pensamento político, econômico e social do Brasil”
HAHAHAHA Pfui.
Perdão, mas não somos todos iguais. Somos patrão ou servente.
Não é possível que você ache que o Bill Gates é igual a qualquer um aí na esquina. Um dos pivôs pro conceito de computador pessoal não é mais patrão que o cara que ensaca compras no WalMart?
Falando em WalMart, o dono dessa joça virou um odiável rico e desumano patrão ao criar uma rede de supermercados que ajudou o pobre com preços populares.
Praticamente tudo o que você consome a baixos custos são obra de malignos patrões que tornaram tais produções possíveis.
Pense no que você consome que não é fruto do trabalho de um patrão.
Claro, muitos estao numa miséria bem maior e não podem aproveitar desses bens, e isso não é nada legal.
Mas financiar políticos fortes que não produzem porcaria nenhuma e desviam milhões não me parece razoável.
Quem enriquece com pobreza é político, não patrão. Patrão precisa de gente com dinheiro pra ganhar dinheiro.
“Dinheiro não dá cria. ”
Ops! Dá sim. No livre mercado, qualquer um tem a possibilidade de ganhar dinheiro. Alguém que nada tem começa com um emprego simples. Se quiser ganhar ainda mais dinheiro reinveste o pouco que tem e cresce. Quando cresce, passa a precisar de mais pessoas trabalhando para si (seja a empregada doméstica ou mesmo contratando pessoas para sua empresa). Essas pessoas passam a ter também renda e com isso, geram o consumo, que por sua vez faz crescer a demanda por outros tipos de profissionais no mercado. Esses profissionais, agora empregados, também geram mais demanda e portanto mais empregos, e assim por diante.
Essa é a roda virtuosa do capitalismo.
“Se sobra aqui é porque está faltando ali.”
Na verdade o raciocínio é: ‘se está sobrando aqui, é porque tem espaço para mais gente se dar bem nessa jogada’.
“Estados europeus que exportaram a pobreza inerente à riqueza para a periferia do capitalismo (roubando, abusando e explorando os povos e países pobres)”
De onde você tirou isso? Ninguém “exporta pobreza”, a pobreza é o estado INICIAL de todos os homens. O que podemos fazer é nos afastar dela, conforme enriquecemos. E toda vez que alguém enriquece, os que estão à sua volta enriquecem junto. Ou seja, não é por excesso capitalismo dos países ricos que os países pobres são pobres, é o contrário: é por falta de capitalismo.