É um hábito comum dos ambientalistas dar muito peso às boas intenções e muito pouco aos bons resultados. Há exceções, é claro. Mas, no geral, os ecologistas tendem a ser galvanizados por motivos idealistas e, não raro, pouco científicos.
Um bom exemplo desse fenômeno é o atual fetiche por banir os canudinhos de plástico para reduzir a poluição dos oceanos. No mês passado, o município do Rio de Janeiro tornou-se o primeiro do Brasil a criar uma legislação banindo o uso de canudinhos plásticos e obrigando o utilização de canudos biodegradáveis, muito mais caros, pouco práticos e anti-higiênicos. Isso quer dizer que, na hora de beber aquela água de coco gelada na praia, você terá de utilizar um copinho com muito mais plástico, e não mais o canudinho. Parece piada, mas é verdade.
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Como a imprensa deu muito destaque à lei carioca, geralmente em tom de aprovação, rapidamente alguns parlamentares federais se adiantaram para propor, no Congresso Nacional, uma lei para proibir a fabricação e comercialização dos famigerados canudinhos em todo país.
O problema é que essas leis são propostas e votadas sem um mínimo de cuidado ou estudo de impacto sério. Se isso fosse feito, os nobres parlamentares ficariam sabendo que a privação dos consumidores cariocas e brasileiros de usar os utilíssimos canudinhos descartáveis em seus cocos gelados, refrigerantes e caipirinhas terá, em números redondos, impacto zero sobre a poluição marinha. O lixo plástico nos oceanos da Terra é realmente um problema sério, mas o volume dos perigosíssimos canudinhos plásticos nos mares tupiniquins, apesar da extensão de nossa costa, não é.
Um estudo de 2015, publicado na revista Science, classificou as 20 principais fontes nacionais de resíduos marinhos de plástico, e descobriu que quase 28% de todos os detritos plásticos nos oceanos vieram da China, o poluidor número 1, enquanto a Indonésia, as Filipinas, o Vietnã e o Sri Lanka contribuíram com outros 27%. O Brasil, que ocupou a 16ª posição entre 20, foi responsável por 1,5%. E dessa quantidade, os canudinhos representam apenas uma fração minúscula.
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Já outro estudo, do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental, em Leipzig, Alemanha, do ano passado, fez uma análise da quantidade de resíduos plásticos varridos para o mar pelos rios do Planeta. A revista “Scientific American” resumiu assim a linha principal do estudo:
“Os resultados, publicados em novembro passado na “Environmental Science & Technology”, mostram que os rios despejam coletivamente de 0,47 milhão a 2,75 milhões de toneladas métricas de plástico nos mares a cada ano, dependendo dos dados usados nos modelos. Os 10 rios que carregam 93% desse lixo são o delta do Yangtze, Amarelo, Hai, Pérola, Amur, Mekong, Indus e Ganges, na Ásia, além do Níger e do Nilo, na África. Somente o Yangtze despeja cerca de 1,5 milhão de toneladas de resíduos plásticos no Mar Amarelo“.
Já os cientistas australianos Denise Hardesty e Chris Wilcox estimaram que pode haver até 8,3 bilhões de canudinhos de plástico nas costas do mundo. Talvez isso pareça muito, mas soma apenas cerca de 2.000 das quase 9 milhões de toneladas de resíduos plásticos que entram no oceano a cada ano. Façam as contas: Todos os canudos de plástico do mundo representam, no máximo, apenas 0,02% dos resíduos de plástico levados para o mar. E desse montante insignificante, uma ínfima fração de 1,5% vem do Brasil.
É ou não é muito sacrifício (de utilidade e dinheiro) pra tão pouco benefício?
Fonte: “Instituto Liberal”, 24/07/2018