O governo Jair Bolsonaro acertou no tom e no conteúdo de sua participação no Fórum Econômico Mundial (WEF), em Davos, na Suíça. As críticas que recebeu são injustas.
O discurso do próprio Bolsonaro foi atacado pela brevidade (apenas 6 minutos) e pela ausência de detalhes a respeito das reformas econômicas, em especial a da Previdência, esperados pela plateia.
Ambas as críticas são frágeis. É verdade que Bolsonaro estava hesitante e parecia nervoso. Nada mais natural para alguém que jamais tomou parte em nenhum evento dessa natureza e ainda nem se acostumou direito à cama do Alvorada, que dizer dos palcos internacionais.
A brevidade, em compensação, é uma qualidade. Evitou expôr o presidente e, por tabela, o país. Bolsonaro poderia ter incorrido no erro frequente de falar demais. Usar todo o tempo de que dispunha, até 40 minutos, o obrigaria a se estender por assuntos que não domina. Ou seria maçante, ou o exporia ao ridículo. Ter reconhecido a própria limitação revela maturidade.
Bolsonaro fez um discurso objetivo, com referências genéricas aos temas que preocupavam a plateia. Nos dois principais, economia e meio ambiente, acertou no conteúdo do que disse. Quem esperava um Brasil rebelde, cantando de galo, apostou errado. É pior para as manchetes de jornal, mas melhor para o país.
A meta de colocar o Brasil entre os 50 maiores países para fazer negócios é objetiva e poderá ser avaliada pelos relatórios anuais Doing Business, do Banco Mundial. Se conseguir atingi-la, o governo Bolsonaro entrará para a história como um dos melhores para a economia brasileira.
Leia mais de Helio Gurovitz
Por que levar o caso Queiroz ao STF?
Reforma precisa incluir militares
O clepto-socialismo de Maduro
O compromisso de conciliar preservação ambiental e desenvolvimento econômico e, sobretudo, a declaração posterior de que o país permanecerá no Acordo de Paris sobre o clima contribuíram para afastar de Bolsonaro o espectro do “antiglobalismo” infantil que tanto preocupa.
O endosso à reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), necessidade reconhecida por quase todos os presentes em Davos, tira da agenda “antiglobalista” o ranço ideológico e lhe confere um caráter prático tangível.
Coube aos ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro, noutras sessões e encontros, entrar nos detalhes sobre suas respectivas áreas. A informação de que os militares deverão ser incluídos na proposta de reforma da Previdência encaminhada ao Congresso é neste momento mais importante, do ponto de vista da imagem, que os detalhes e contas que deverão ser debatidos à exaustão.
É um erro esperar que um governo, qualquer governo, de qualquer país, use um fórum internacional para anunciar um projeto de importância e gravidade como a reforma previdenciária. Trata-se de um assunto interno, e Bolsonaro fez bem em escapar dessa armadilha.
A ansiedade dos representantes de empresas e bancos presentes em Davos tem razão de ser. Já passa da hora de o país conhecer os detalhes da proposta, que deveria ter sido apresentada ainda na campanha eleitoral. Mas lá não era o local adequado.
Guedes delineou todos os princípios que nortearão a ação do governo na economia. Quem prestou atenção sabe que eles são mais do que suficientes para garantir as intenções do novo governo. Se haverá competência ou condição política de transformá-las em realidade, é outra questão. Garantia absoluta, não existe.
Bolsonaro pode aproveitar os dois dias que ainda ficará na Suíça para se acostumar ao balé singular que caracteriza esses convescotes internacionais. Encontrará líderes da direita europeia, debaterá sobre a situação da Venezuela e será testado em sua capacidade de representar o país. A estratégia de evitar correr riscos, adotada em seu discurso, continua a ser a melhor para ele e para o país.
Fonte: “G1”