Ao longo dos últimos anos, além de dar aulas, me envolvi em três projetos ligados ao ensino de economia. Criei e coordenei um grupo de estudos sobre conjuntura econômica com a participação de alunos de graduação e pós-graduação em economia. Proferi inúmeras palestras em universidades em diversos estados brasileiros, através do projeto “Imil na Sala de Aula”. Por fim, criei uma empresa que, entre outras coisas, oferta cursos online de teoria econômica e de econometria usando linguagens de programação para lidar com a evidência empírica disponível. Com base nessas experiências, listo nos próximos parágrafos o que entendo ser necessário para melhorar o ensino de economia no país.
O contato com alunos de graduação e de pós-graduação, professores universitários e profissionais de mercado trouxe uma constatação: o ensino de economia no Brasil é excessivamente teórico. Um graduado em economia provavelmente, salvo as exceções de praxe, terá tido contato com obras clássicas do pensamento econômico, mas dificilmente foi treinado nas melhores ferramentas disponíveis para lidar com evidência empírica. O que hoje se convencionou chamar de Data Science, tem pouca ou nenhuma penetração nas faculdades brasileiras de economia.
Um profissional que não consegue lidar com a evidência empírica disponível não poderá contribuir com a evolução da ciência econômica. Isto porque o mainstream da profissão está baseado na construção de uma teoria econômica positiva, onde um conjunto de hipóteses é provisoriamente aceito porque ainda não se pode rejeitá-lo através da evidência empírica disponível. Além disso, terá dificuldades para atuar na avaliação de políticas públicas, na condução da política econômica ou mesmo na avaliação de projetos de investimento. Isso implica que ou o profissional de economia perde a posição para outras profissões, ou se posto na tarefa, acaba por prejudicar o andamento de um projeto, o desenho de uma política pública ou mesmo a condução da política econômica do país.
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Diante das externalidades negativas, penso que uma ampla reforma dos currículos das graduações e pós-graduações em economia seja extremamente necessária. E será feita, a meu ver, por bem ou por mal, dado que saber lidar com dados é uma imposição dos novos tempos – para qualquer profissional e não apenas para os economistas, ressalta-se. O que segue, por suposto, é um norte genérico, inspirado no que vivi nos últimos anos.
Antes de tudo, é preciso compreender que alunos de economia têm de ter um treinamento robusto em matemática, estatística e econometria. São essas disciplinas que lhe darão capacitação para lidar com a evidência empírica disponível. Ademais, o núcleo duro da grade, composto por cursos de teoria econômica, precisa ser dividido em teoria e prática. O aluno deve ser exposto, tão cedo quanto possível, a diversas formas de rejeitar hipóteses econômicas. Um aluno bem treinado, por exemplo, deve não apenas conhecer o modelo teórico que explica o comportamento dos preços, mas ser capaz de estimá-lo com as ferramentas e evidências disponíveis.
Para que isso seja possível, o aluno precisa ter tido contato com o que chamamos de ciclo do dado. Ela precisa ser capaz de coletar o dado, fazer as transformações necessárias, construir e estimar um ou vários modelos, analisar e reportar os resultados encontrados. Com efeito, a teoria passa a fazer sentido do ponto de vista prático, além de qualificar o profissional para tanto entender o que se está produzindo na fronteira da ciência, quanto mesmo contribuir com isso.
Uma reforma que consiga incluir esse ciclo na formação do profissional de economia terá diversos efeitos positivos. Produzirá economistas prontos para avaliar custos e benefícios de um projeto de investimento ou de uma política pública. Mostrará os trade-offs envolvidos na condução da política econômica, o que elimina a implementação de soluções fáceis na busca pelo desenvolvimento econômico. O país, como se vê, só tem a ganhar com a melhoria do ensino de economia.