Somos um grande país governado pelo pensamento pequeno. A busca e proteção de interesses pontuais bloqueia o surgir de uma lógica pública impessoal de largo alcance. Nossa democracia carece de um autêntico projeto de nação. Se o poder emana do povo, a política tem sido decidida por poucos a favor de alguns. Por consequência, os anos passam, sonhos se desfazem e as palavras da Constituição viram ecos despidos de significado real.
Na ausência de mínimos resultados concretos, o sistema começou a ruir; trata-se de um movimento sem volta. Os velhos instrumentos da política não funcionam mais; estamos vendo a fadiga dos materiais de um modelo republicano falido. O fato é que os mecanismos de governo perderam vitalidade e eficiência prática. O diagnóstico é claro e categórico: temos um sistema político medieval em um mundo de tecnologia digital. Ou seja, o tempo da política não mais condiz com a atual velocidade da vida.
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Os lerdos e solenes processos do passado são flagrantemente incompatíveis com as urgentes necessidades do hoje. Nesse contexto, ou a política muda ou será mudada pelo calor das circunstâncias. Aqui, não há meio termo. Sem integridade pessoal, coerência interna e responsividade, nenhum sistema político ficará de pé nas próximas décadas.
O jogo do futuro é substancialmente outro. O mundo mudou, exigindo novas formas de pensar e agir. O sucesso das redes sociais bem demonstra que os modelos verticais hierarquizados não mais condizem com as modernas relações de poder. Ao invés da imobilidade burocrática, a gestão pública vencedora será feita, essencialmente, de dinamismo transformador. Para tanto, é fundamental impormos uma nova lógica no sistema democrático brasileiro. Precisamos de gente que pense diferente, que acredite em um país melhor e que não mais aceite a atual forma indigna de se fazer política.
Para mudar, é preciso querer. E só quem sonha, quer. Então, que Brasil queremos nós?
Fonte: Zero Hora, 06/02/2018